sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Destruindo mitos: a Seleção de 1982

Publicado ao mesmo tempo em www.joselitando.blogspot.com

No dia 5 de julho de 1982, nasceu, por circunstâncias diversas, um dos maiores mitos da história recente do Brasil. Naquele dia, no já demolido estádio de Sarriá, na cidade de Barcelona, na Espanha, a derrota de uma Seleção Brasileira indisciplinada taticamente, irresponsável, inconsciente e preguiçosa ganhou proporções épicas. O time, nada mais que uma equipe mediana e que contava alguns craques – exatamente como outras tantas seleções brasileiras – , ganhou status de representação do “futebol bonito”, do “futebol menino”, alegre e vistoso. “Esse é o futebol brasileiro”, gritam até hoje as viúvas de 1982. As gerações mais novas cresceram ouvindo essa bobagem, essa falácia que de tanto que foi repetida, soa como uma verdade universal. Mas é chegada a hora de botar o castelo de areia abaixo.

Em 1982, já no período final da ditadura, o Brasil estava completamente sem rumo social, político, cultural e esportivo. A política militar de construir estádios gigantes Brasil afora para aquietar os ânimos da população já não estava mais surtindo tanto efeito. Para quem havia conquistado três copas do mundo em uma dúzia de anos, ficar outros 12 sem sequer chegar a uma final era uma porrada e tanto na auto-estima. A carência de ídolos, o patriotismo exacerbado e a ascensão naquele momento de jogadores do Flamengo (representados por Zico, Júnior e Leandro) só serviram para popularizar ainda mais aquele “bando” de atletas treinados caoticamente por Telê Santana e que acabaram equivocadamente transformados em mitos. Se não fazemos nada na economia, nem na política, temos que mostrar ao mundo o que sabemos fazer: jogar bola e meter gols. Não importa o resultado.

O que ninguém conta direito para vocês, caros jovens amigos, é que o “meter gols” daquela época foi em cima da inexpressiva Nova Zelândia. Ou da periclitante Escócia – seleção esta que jamais venceu partida e sequer passou da primeira fase em nenhum dos diversos mundiais que disputou. Brasilzão este que suou sangue para ganhar do mediano escrete soviético, outro selecionado também sem representação histórica alguma no futebol mundial.

A única vitória digna de registro foi sobre a capenga seleção da Argentina, que tinha um Mario Kempes velho, um jovem Maradona caneleiro que só sabia sentar a porrada nos adversários – foi expulso na partida, após violenta entrada em Batista – e que havia perdido da Bélgica, debutante em copas do mundo. O 3 x 1, com direito a sambadinha do displicente Junior, nos deu a vantagem do empate para a partida contra a Itália, criando a ilusão de que os europeus seriam presas fáceis para nós. Ledo engano.

Os italianos, que brincaram de empatar com Camarões e outras tranqueiras na primeira fase, nem precisaram jogar muito para derrotar o Brasil com relativa facilidade. Tamanha foi a moleza que um sujeito que havia ficado um ano e meio sem jogar bola (por conta de escândalos de corrupção no futebol italiano) meteu três gols em nós. A maioria decorrente de erros grotescos da nossa defesa.

Acessem este vídeo para entender melhor o que estou dizendo.



Vejam o primeiro gol da Itália. Cruzamento de Cabrini. Há cinco brasileiros contra dois italianos. O Rossi caminha a passos largos e lentos, sob os olhares letárgicos de Luizinho. Pior que isso só mesmo o gol perdido por Serginho Chulapa na sequencia. Nem mesmo o Ciel seria capaz de tamanha monstruosidade. E o Roberto Dinamite no banco...

Os poucos lampejos de genialidade, restritos ao meio-de-campo deste selecionado, resultaram num gol de empate de Sócrates. Mas como o time do Telê era o time do Telê, o atleticano Toninho Cerezo incorporou as cores da camisa que vestia para acertar um passe primoroso para... Paolo Rossi. Vejam que lambança histórica. A tenebrosa zaga, formada por Oscar e Luizinho, por sua vez, estava tão fora de foco no jogo ou fora de forma física que ficou a ver navios, comendo poeira. Não dá vontade de apedrejar esses caras?

Novamente, para conseguirmos o empate, Zico, Falcão e Sócrates tiveram de suar bastante. Mas para ganhar copa do mundo tem que ter estrela, amigo. E time que tem Zico não ganha copa do mundo. Isso foi escrito há 100 mil anos.

Pior: time que tem Toninho Cerezo não ganha nem par ou ímpar. Vejam outra pérola do ex-meia do Patético-MG: ele dá uma cabeçada ridícula, tentando recuar a bola para Waldir Peres. O goleiro, que já era horrível, não conseguiu pegar a pelota, claro. Escanteio. Na cobrança, a Itália faz tabelinha de cabeça na grande área, ninguém marcando ninguém, até que uma bola sem-vergonha é espirrada para a pequena área do Brasil. Rossi nem precisou ser oportunista nem nada. Chutou para o único lugar que dava e decretou a derrota do Brasil. Detalhe odioso: no maior estilo “Roberto Carlos e a meia de 2006”, Júnior aparece no meio da pequena área, com a mãozinha pro alto pedindo impedimento, dando condição total ao italiano e sem mexer um centímetro no lance. Patético.

Mais revelador ainda: completamente abatido e derrotado em campo, o Brasil ainda tem a ajuda considerável da arbitragem no lance seguinte. Antognoni recebe um passe certeiro de Paolo Rossi e marca o que seria o quarto gol italiano. Talvez por piedade, o árbitro Abraham Klein, de Israel, anula o gol. No fim, como não tínhamos nenhum atacante decente, o pobre do Oscar ainda tentou empatar em cabeçada prontamente defendida por Dino Zoff, um goleiro de 40 anos que disputava sua quarta copa do mundo.

As viúvas de 1982 ainda se remoeram mais quando, 12 anos depois, o Brasil de jogadores menos fanfarrões, mais disciplinados e eficientes fez bonito o que os pseudo-heróis de Telê e Cia não conseguiram: venceram a Copa do Mundo. Execrado pelos cegos da subjetividade, em sua má-fé, cínica e obtusa, o time de Parreira, em uma avaliação sóbria, homem a homem, também leva a melhor sobre os patéticos atletas que foram brincar na Espanha. Vejamos:

Goleiro: Ponto para 1994.

Taffarel é anos-luz melhor que Waldir Peres. Jogou três copas, não falhou em nenhum momento decisivo. Pelo contrário, pegou foi muito pênalti na hora que precisamos dele. Waldir Peres? Vejam a estréia dele na Espanha: http://www.youtube.com/watch?v=1Mq38IEFJHo

Laterais: Ponto para 1982 com um empate.

Jorginho e Leandro? Pau a pau. Considero empate.

Branco e Junior? Bem, apesar de o Branco ter jogado bem as três copas que disputou, de ter feito o gol cala-a-boca, de ter anulado o Overmars, de ter entrado na fogueira e não ter pipocado e de ter estrela de vencedor, ainda vou dar essa canja pro Junior. Mesmo o nosso querido Leovegildo não tendo jogado bem nem em 1982, nem em 1986, já no meio-de-campo.

Zagueiros: Mais dois pontos para 1994.

Não dá pra comparar Aldair e Márcio Santos, nossa melhor defesa em todas as copas, com Luizinho e Oscar. Piada.

Meio-de-campo: Três pontos para 1982 e um para 1994.

Dunga foi muito mais jogador que Cerezo. E não fazias as lambanças que o ex-jogador do Galo fez em momentos decisivos.

Mauro Silva era um tanque, um baita jogador. Mas não há termo comparativo com ele em 1982, pois o lunático time do Telê não tinha volantes do mesmo tipo. Mazinho e Zinho eram horríveis. Então, Sócrates, Zico e Falcão levam essa sem muito esforço.

Ataque: Dois pontos para 1994.

Romário e Bebeto meteram gols decisivos sempre que jogaram juntos, se entendiam em campo e fizeram história na Seleção Brasileira. Já Éder e Serginho Chulapa...

Placar final: 1994 leva a melhor em seis posições. 1982 em quatro. E uma dá empate. Mesmo que haja uma ou outra discordância sobre esta avaliação feita acima, não será suficiente para dizermos que o timeco que apanhou no Sarriá merece muito mais o nosso respeito que a geração campeão em gramados americanos.

Mesmo o técnico de 1982 levou anos para ser reconhecido por alguma coisa. Até conquistar os títulos pelo São Paulo dez anos depois, Telê Santana era visto como símbolo de fracasso, de pé-frio e de sujeito sem estrela, pelos inúmeros campeonatos perdidos quando treinava equipes bem melhores que as outras (vide Atlético-MG em 1987, só para citar um exemplo).

Portanto, garotos e garotas, jovens e não tão jovens, sempre que falarem do time de 1982 com este endeusamento expresso, desconfiem. E retruquem com convicção, argumentação e fatos: não é verdade. Aquele time é uma grande farsa. Valorizem quem foi lá, mostrou o futebol como é que é, como as equipes de 1994 e 2002. E se for para respeitarem devidamente alguém que perdeu copa, olhem com mais carinho para 1998: fizemos bons jogos, perdemos a final, mas chegamos lá e fomos vice-campeões. Nas últimas dez copas do mundo, nosso pior resultado foram quintos lugares. Adivinhem em que posição chegamos em 1982?

Nenhum comentário: