Em Milão, na Itália, temos dois grandes times. Que dividem o mesmo estádio. A exemplo de Flamengo e Fluminense, que têm como suas casas, seus estádios, o melhor e mais charmoso estádio do mundo, o Maracanã, Internazionale e Milan mandam seus jogos no Estádio San Siro - quando o clube de Ronaldinho Gaúcho, Dida e Pato atuam - ou simplesmente Giuseppe Meazza - quando o mandante é o time de Júlio César, Lúcio e Mancini. Ao contrário do que sugere a magnanimidade do estádio, construído em 1926, o campo onde as equipes milanesas atuam é minúsculo. Bem pequeno mesmo (105 x 68m, sem "área de escape"), talvez com dimensões semelhantes às da Vila Belmiro ou La Bombonera.
Como Inter ou Milan jogam praticamente duas vezes por semana, o gramado do San Siro (vamos chamar assim, porque, na real, as placas da cidade e todas as referências são sobre San Siro - Giuseppe Meazza foi um nome dado apenas em 1980, em homenagem ao ex-jogador da Inter, campeão do mundo em 1934 e 1938) é bastante castigado. E precisa ser trocado três ou quatro vezes por ano. Semana passada, quando estive por lá, nem as traves estavam colocadas no campo, para se ter uma idéia.
A capacidade do estádio, em meados da década de 1920, era de 35 mil pessoas. O local pertencia apenas ao Milan, na época. Até 1947, quando, por conta de um acordo, passou a ser dividido com o rival. Algo, creio, inimaginável por aqui. Alguém imagina o Morumbi sendo co-gerido pelo Corinthians?
As arquibancadas e cadeiras do estádio foram construídas em camadas. Assim, as expansões do estádio, cada uma delas, foram possíveis apenas com a construção de maiores torres de sustentação atrás das edificações. A exemplo da maioria dos estádios europeus, o San Siro tem forma de caixote. Tipo retangular (na América Latina, por exemplo, vemos muitos estádios em formato oval). Isso permite que qualquer um dos 85.700 espectadores presentes no estádio asissta ao jogo bem de perto, mesmo que estejam nos lances de arquibancada mais altos.
A última expansão do estádio - que colocou em prática aquela regrinha chata de país civilizado, de todo mundo ter de ficar sentadinho - foi feita com vistas à Copa de 1990. E só não foi maior por conta do hipódromo que fica grudado atrás do estádio - a área teria que ser comprada e destruída para a colocação das torres. Dependendo de quem é o mandante - Inter ou Milan -, a torcida adversária tem apenas um pequeno espaço reservado para si - láaaaaaaaa no alto das arquibancadas, à direita ou à esquerda. Fiquei impressionado com a proximidade do campo. Mesmo não sendo conhecido como um caldeirão (geralmente estádios com pequenas capacidade), o San Siro permite que você fique muito perto do gramado.
Em meados da década de 1950, 100 mil pessoas viram, neste local, a Itália dar uma surra de 3 x 0 no Brasil, que viria a ganhar sua primeira copa do mundo dois anos depois. A capacidade só foi "diminuir" para 80 mil como consequência da tragédia de 1985, na Bélgica, que matou uma cambada de gente na final da Liga dos Campeões entre Juventus e Liverpool, se não me engano.
Foi aqui também que Oman Biyik meteu um gol de cabeça no final do jogo de abertura da Copa de 1990, fazendo a Argentina perder para Camarões por 1 x 0. Mal sabíamos o que nos esperava pela frente. Outros seis jogos daquele Mundial também foram disputados por aqui. A semifinal da Copa de 1934, em que a Itália ganhou de 1 x 0 da Áustria, e a decisão da Liga dos Campeões de 2001 (Bayern Munique ganhou do Valencia nos pênaltis) foram outras partidas históricas jogadas em Milão.
Um jogo curioso que rolou aqui no mesmo ano foi Brasil x Combinado do Resto do Mundo, em homenagem aos 50 anos do Pelé. Perdemos de 2 x 1. E olha só a escalação do escrete comandado por Falcão: Sérgio (Ronaldo), Gil Baiano (Bismarck), Paulão, Adílson (Cléber) e Leonardo (Cássio); César Sampaio, Donizete Oliveira (Luís Henrique), Cafu e Pelé (Neto); Charles (Valdeir) e Rinaldo (Careca Bianchesi). Não à toa que o Falcão não durou muito na Seleção...
Hoje em dia, a média de público no estádio é um absurdo de grande. Em 2008 / 2009, o Milan levou, em média, 59.731 pagantes por jogo. A Inter trouxe 55.431. Isso em campeonato de ponto corrido. Não vi ninguém reclamar lá dessa fórmula de disputa. Que não tem emoção, que é chato jogar contra o Cagliari ou o Chiesa, etc. Vai entender, né?
A visita ao estádio inclui também um passeio ao museu do clube, que, como era de se esperar, traz de forma bem equilibrada os painéis entre Inter e Milan. Alguns brasileiros são citados e vistos nas fotos das conquistas dos times. Achei curioso que a menção a Ronaldo (que ficou cinco temporadas na Inter) é apenas com um livro chamado "O rei ingrato", referência à transferência do Gordo para o Real Madrid logo após o Mundial de 2002, quando ele arrebentou depois de passar dois anos se recuperando de cirurgias no joelho às custas da Inter.
Na entrada do museu, há duas estátuas de grandes jogadores dos dois times. O engraçado e de certa forma até previsível (dada a tradição defensivista do futebol italiano) é que os ídolos homenageados dos dois clubes milaneses são defensores: Baresi (jogou os mundiais de 82, 86, 90 e 94, mas ficou famoso por aqui por conta daquele pênalti cobrado em direção a Vênus na decisão do Mundial dos States) e Giuseppe Bérgomi (jogou os mundiais de 82, 86, 90 e 98). Na loja do estádio, a mesma coisa: para a esquerda, artigos da Inter. À direita, só coisas do Milan. Não sei se é a crise econômica ou preguiça mesmo, mas achei a loja meio vagabunda, ainda mais se comparada aos três andares da loja do Real Madrid no Santiago Bernabéu.
A visita ao San Siro, no geral, dura meia hora, custa 12 euros e vale muito a pena. Dá para você entrar no museu, no estádio e fotografar à vontade. Um bom programa, como sempre, ainda mais se você gosta de futebol.
Um comentário:
Por que nao:)
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