quinta-feira, 27 de março de 2008

O último dos moicanos

Torcedor símbolo do Íbis, Francisco Imperiano Filho, o Chico da Cuíca, foi enterrado ontem. Ele morreu na terça-feira, aos 84 anos, deixando saudades no time que ficou conhecido como o pior do mundo

Ana Paula Santos
Do Diário de Pernambuco

No caixão, a bandeira do Íbis: Chico Cuíca foi enterrado com o agasalho do clube

Recife — Enquanto a saúde permitiu, o paraibano Francisco Imperiano Filho acompanhou seu time de coração pelas arquibancadas pernambucanas. Na noite da última terça-feira, o coração de Chico da Cuíca, como era conhecido, parou de bater. Deixou o Íbis, o famoso “pior time do mundo”, sem seu torcedor mais fiel e ilustre. Na tarde de ontem, filhos, familiares, amigos e ex-jogadores do Pássaro Preto foram ao cemitério de Santo Amaro prestar as últimas homenagens. Seu Chico, que era viúvo havia dois anos, deixa os filhos Homero e Regina, além de oito netos e três bisnetos.
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Natural da cidade paraibana de Soledade, Francisco Imperiano chegou ao Recife na década de 1940. Veio à capital pernambucana para prestar o serviço militar e, por coincidência, passou a morar próximo à sede do clube, em Santo Amaro. Tornou-se amigo dos diretores do Pássaro Preto e, em seguida, um dos seus seguidores. Na família, todos os seus 13 irmãos são torcedores do Sport. Mas ele se mantinha fiel. “Só tenho um time, que é o Íbis”, costumava dizer Chico, que não perdia um só jogo do clube amado. Até as partidas amistosas da equipe master ele acompanhava. “É uma grande perda para o Íbis. Ele era da família para nós e, principalmente, para os atletas mais antigos”, contou Ozir Júnior, ex-presidente do Íbis.
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Mesmo com a saúde em estado delicado — recentemente sofreu uma queda em casa e quebrou o fêmur —, Chico da Cuíca pediu para o filho Homero anotar em sua caderneta pessoal, nas cores vermelha e preta e com a inscrição Íbis Futebol Clube, o endereço do local dos treinos do Pássaro Preto. “Ele não andava mais sozinho e também não escrevia mais. Então, pediu para anotar o endereço do campo do Grêmio, perto da Funeso, para a gente ir lá ver o treino. Foi a última coisa que ele me pediu para escrever”, relata Homero Toscano Imperiano, bastante emocionado. Era com Homero que seu Chico morava, na cidade Tabajara, em Olinda.
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Saudosista, o zagueiro Fernando, que vestiu a camisa do Íbis em 1969, falou da presença de Chico em treinos e jogos. “Ele não perdia nada. Certa vez, estávamos jogando contra o Sport e eu caí. Na ocasião, quebrei a perna. O locutor caiu na besteira de dizer que os jogadores do Íbis estavam caindo no chão porque estavam passando fome. Não prestou. Ele subiu na cabine para bater nele.”
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Mal-entendido
Minutos antes do sepultamento de seu Chico, um mal-entendido deixou seus familiares indignados. É que assim que o corpo foi liberado pelo Instituto de Medicina Legal (IML), o blusão confeccionado por um dos primeiros fabricantes do uniforme do Íbis e dado de presente a ele sumiu. “Não é possível um negócio desse. Meu pai vai ser enterrado com o blusão!”, esbravejou Homero, que exibia a carteira de identidade de Chico, onde ele aparecia com a roupa na foto.
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Alguns minutos depois, tudo foi resolvido e o agasalho apareceu, todo molhado, trazido pelo neto de Chico. “Ninguém pensou em ficar com o blusão, ele está molhado porque todo o chão está molhado. Deve ter caído”, justificou Manoel Silvestre, funcionário do IML.

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