quinta-feira, 8 de maio de 2008

É grande, mas vale a pena

Esta é para todos que defendem a coisa esdrúxula dos estaduais...

Lições da Libertadores, que castiga quem prefere festejar um 'estadualzinho' ao duro desafio de conquistá-la

por Mauro Cezar Pereira (ESPN Brasil)

Sim, é um velho clichê. Mas nas circunstâncias, inevitável: a Libertadores é diferente. E é mesmo. Há quem pense que não. O resultado? Castigo. Eliminação. O Flamengo, que em 2007 caiu nas oitavas-de-final diante do limitado Defensor do Uruguai, mostrou que a lição não foi aprendida. Assim, merecidamente foi despachado na mesma fase, e com requintes de crueldade, pelo América. Um fiasco inquestionável. Um triunfo espetacular do time mexicano. Uma noite histórica.
A derrota por 3 a 0 no Maracanã para o lanterna do campeonato disputado no México foi um autêntico "Maracanazo", afinal, até a derrota por dois gols sem sofrer mais do que três servia para os rubro-negros. Muitas desculpas serão dadas através dos dias, meses, anos até. Mas a explicação é simples: quando não se estabelece uma real prioridade, o fracasso fica mais próximo. E quem coloca um campeonato estadual no mesmo patamar da Libertadores não merece mais que... um estadualzinho mesmo.
Campeão do Rio pela sexta vez nas dez últimas edições do torneio, o Flamengo foi ao Maracanã festejar o atualmente pouco expressivo título conquistado três dias antes. E dizer adeus a Joel Santana, de malas prontas para a África do Sul. Uma festa. Só que a Libertadores é diferente, lembram? E nela, apenas quem vence na própria Libertadores pode festejar.
Depois dos 3 a 1 sobre o Botafogo pouco se treinou e muito se falou sobre diversos assuntos. Os temas eram a série de triunfos sobre o rival local, a chegada do novo técnico, Caio Júnior; a possibilidade de rompimento contratual com a Nike, por aí. Esqueceram do adversário, que desembarcou no Galeão para disputar uma partida especial, uma partida de Libertadores. Era como se o América não existisse.
O Flamengo não merecia seguir na competição, simplesmente porque desrespeitou a Libertadores. Pensou que o time mexicano, em crise, era um Cardoso Moreira, um Mesquita, ou algum outro timeco desses que disputaram o "Cariocão 2008", o tal torneio no qual os "maiorais" só jogam em casa.
Assim, antes de a bola rolar, lá estavam sorridentes cartolas homenageando Joel e a torcida gritando o nome do treinador, um dos poucos que ainda demonstravam alguma preocupação com a partida que estava por começar. O roteiro perfeito do desastre. Os rubro-negros fizeram por merecê-lo e hoje, pelo fraco desempenho recente na Libertadores (2002, 2007 e 2008), o time é apenas mediano no cenário continental. A LDU tem retrospecto melhor.
À torcida fica a lição, que dificilmente será aprendida um dia. O fiasco diante do minúsculo Santo André na final da Copa do Brasil foi há menos de quatro anos. E já aconteceu de novo. Os ufanistas adoram dizer que o Flamengo é quase imbatível no Maracanã. Mentira! Pura balela! O time coleciona fiascos diante de sua torcida (veja a lista abaixo). Este é só mais um e provavelmente não será o último. E a essa altura é tarde demais para qualquer chororô.

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Logo que soube o nome do seu adversário após a fase de grupos da Libertadores, Adílson Batista disse que gostou. Sim, o técnico do Cruzeiro achou ótimo ter pela frente logo o Boca Juniors, seis vezes campeão da maior competição do continente e atual detentor da taça. Convenhamos, gostar de um inimigo desses quando poderia encarar o Atlas, o Lanús, a LDU, o Nacional, o Atlético Nacional?
Seria admissível se ele dissesse que diante do gigante o jeito seria enfrentá-lo corajosamente, mas gostar de ter Riquelme e companhia pela frente quando isso poderia ser evitado foi um grande equívoco, pretensão, ou conversa fiada.
Após a derrota (injusta, pois o Boca merecia golear) por 2 a 1 em Buenos Aires, muito se disse que bastaria uma vitória simples. "Só 1 a 0", isso mesmo, "só". Um triunfo pelo placar mínimo era suficiente, mas tal tarefa é bem complexa diante desse adversário. A facilidade na conquista do título estadual ampliou o otimismo celeste, como se o fragilizado Atlético servisse de parâmetro para o duelo com forte adversário argentino.
No Mineirão, os eficientes contra-ataques boquenses aniquilaram o jovem (e promissor) Cruzeiro nos 45 minutos iniciais. Palácio e Palermo, os autores dos gols, formam a melhor dupla ofensiva do continente, e logo atrás deles vêm o homem que, nas Américas, detém em seus pés a maior capacidade de decidir uma partida no puro talento: Riquelme.
Adílson sabia disso tudo, é claro. A desclassificação diante do Boca Juniors foi normalíssima. E certamente o técnico cruzeirense não gostou. E deve estar pensando agora que tal duelo nesta fase poderia ser perfeitamente evitado. Custou caro a goleada sofrida em Potosí diante do risível time local. Muito mais importante do que os 5 a 0 sobre o Galo foram os 5 a 1 sofridos pelo Cruzeiro na altitude boliviana.

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O São Paulo não foi campeão estadual. Mas segue vivíssimo na Libertadores que conhece tão bem. O Fluminense não acumula vivência no torneio, e também não ganhou o título no Rio, mas também está classificado para a próxima fase da competição internacional.
Tricolores paulistas e cariocas podem muito bem dizer aos seus rivais campeões estaduais (Palmeiras e Flamengo), ambos eliminados das competições mais relevantes que disputaram nesse primeiro semestre: "Campeões" E daí??
Para os que eventualmente não tenham lido, no link abaixo segue minha opinião sobre os campeonatos estaduais, registrada dois dias antes do "domingo de decisões pelo Brasil": http://espnbrasil.terra.com.br/colunistas/materia.aspx?ID=2024&Colunista=38

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O ótimo José Simão diz que o Brasil é o país da piada pronta. Então não há como deixar de observar que Caio Júnior levou de quatro do Corinthians, de três do Itumbiara e mais três do América do México, sendo este último antes de assumir o Flamengo...

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