segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Medo do prestígio

Acabei de ler em reportagem publicada no G1 que o Hamburgo pode ser o entrave para a vinda do Thiago Neves ao Flu. Explicando para quem não está a par: Thiago Neves foi vendido ao Hamburgo há seis meses no melhor momento de sua carreira (Bola de Ouro da Placar, atuações e gols decisivos por pelo menos um ano, convocações para a Seleção Brasileira) e, depois de nove jogos e nenhum gol, o mesmo clube alemão que apostou suas fichas no ex-craque tricolor, chegou à brilhante conclusão que ele é um engodo e quer repassá-lo a um time da Arábia.

Ou não. Olhem que dantesco: o Hamburgo topa "se livrar" do Thiago Neves. OK. Os árabes querem comprá-lo. Mas o jogador só topa ir se ficar o primeiro semestre no Flu, onde espera recuperar visibilidade e prestígio. Os árabes toparam. O Thiago Neves também. Tudo certo? Não. O Hamburgo agora, segundo a matéria supra-citada, só aceita vendê-lo aos árabes se ele não jogar no Fluminense. A lógica disso? Aparentemente absurda, mas não surpreendente: os alemães temem ficar mal na fita se o cara voltar pro Brasil, comer a bola aqui e ficar valorizado e prestigiado de novo. Improvável, mas não impossível. Porque, como se sabe, comer a bola na Arábia até o Leozinho consegue. Não estou aqui entrando no mérito se o Thiago Neves vai voltar ou não a jogar pacas. Isso nem importa tanto na questão. Ele tem vários talentos, ressaltados até mesmo pelo nosso leitor mais invisível de todos - e que vem sempre por aqui, mas jamais deixou um comentário com sua importante e relevante opinião acerca do esporte bretão -, mas ainda não dá pra saber, mesmo com tudo o que foi descrito acima, se ele realmente vingou.

A relutância do Hamburgo em fechar o negócio só mostra o que vem ocorrendo há 15, 20 anos, no futebol brasileiro. Antes, um cara, pra jogar na Europa, atuava por quatro ou cinco anos no Brasil em altíssimo nivel. Se era vendido, não havia dúvidas sobre seu talento. Era craque incontestável. Hoje em dia, basta um sujeito fazer meia dúzia de partidas boas para ser cobiçado e vendido para uma equipe - normalmente de segundo escalão - da Europa. Vai pra lá, fica seis meses ou um ano na geladeira, sem render o esperado e logo é repassado pra um outro timeco da Suíça ou que disputa para não cair de divisão na Espanha ou na Itália.

Nesse contexto, arruma uma volta por tempo determinado ao Brasil. E aí é que é o problema: se o cara é bom, como Zé Roberto, Ricardo Oliveira ou Adriano, a gente sabe que ele vem para cá só para se valorizar e voltar pra Europa em seguida. E ficamos entre a cruz e a espada: o sujeito só ficará no nosso time se jogar mal. Se jogar mais ou menos, o time dele láááááááá na Europa o pega de volta, nem que seja para, de novo, repassá-lo a outro clube. Se jogar bem, então, volta pra lá, vira titular em seguida (ou não) e recebe elogios rasgados do técnico, que exalta a recuperação e a força de vontade do cara. E os clubes daqui ficam como? Chupando o dedo. E não dá pra culpar, jamais, o jogador, por esse vai-e-vem com ares de uso e descarte. Bem faz o Muricy que determinou: reforço da Europa só vem se for pra ficar um ano. Menos que isso, não interessa.

É uma heresia dizer isso, mas o Eurico Miranda, no que se referia à lei do passe, até que não estava tão errado: ela está dilacerando o futebol brasileiro. Ou, pelo menos, os clubes daqui e seus campeonatos. Craque a gente sempre vai fazer. E sempre exportou. Mas agora exportamos tudo. Do luxo ao lixo.

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