A torcida do Gama mostrou mais uma vez que gosta de futebol e comprou 16.123 ingressos para ver o seu time empatar em 1 a 1 com o Brasiliense no domingo.
Outros tempos
Quem também já foi ao Bezerrão e assistiu a um jogo do Gama foi o nosso querido Berna. Isso faz tempo, mas vale a pena ler uma crônica que ele escreveu. Particularmente acho sensacional.
PLATINI
E ZIDANE
Domingo é dia de futebol. Depois do almoço, bateu aquela leseira dominical, mas reuni minhas energias e tratei de fazer algo útil da vida. Engatei meu golzinho fubanga e tomei a BR-040. Antes da entrada para Belo Horizonte, virei no rumo do Bezerrão. Gama x Santa Maria. Belo prélio para esquentar a primeira rodada do Campeonato Brasiliense. Uma hora antes da partida, estacionei o golzinho audaz numa rua ao lado do Gama Shopping. Adquiri meu ingresso (a promocionais 5 reais) e me dediquei à tarefa de pesquisar o mercado informal às portas da arena.
A latinha de skol, vendida a 2 no calçadão, caía para 1,50 perto das bilheterias. Para evitar a multidão, tratei de entrar logo no Bezerrão. Mas a multidão não apareceu. Apenas 753 pagantes, segundo o borderô, acompanharam a estréia do Gama, atual vice-campeão da terceira divisão nacional, neste Candangão-2005. O time vinha de derrota em amistoso com o Grêmio Inhumense (2 x 0), o que não chega a ser um auspicioso início de temporada.
Os jogadores do alviverde se aqueciam às margens do campo. Dois torcedores acompanhavam o apronto, debruçados no alambrado. ‘‘E o Rodriguinho?’’, notou um deles, dando pela falta do habilidoso meia. ‘‘Deve estar machucado’’, completou, pensando alto. ‘‘Rodriguinho quer sair do time. Tem mais é que botar ele pra treinar’’, cortou o amigo, impaciente. ‘‘Tinham que colocar ele de centroavante. Ele joga muito. Metia bola daqui pro Manzi, lá dentro da área, facinho.’’
Fiquei grilado. Pô. Como pode o disciplinador Reinaldo Gueldini deixar Rodriguinho no banco? Deve estar de bronca. Remoendo tamanha angústia, encontrei uma sombra aprazível no cimentão da arquibancada. Como jornalista, precisava exercer a imparcialidade, a objetividade, o distanciamento crítico.
E o Gama adentrou a relva para a iminente peleja. Os atletas foram saudados com pipocos de fogos. O fumacê embaçou por instantes as placas de publicidade. Academia Any Shirley, Restaurante Paladar, Sacaria Leal e Instituto Cultural Wilson Lima, dentre outros patrocinadores. O time do Santa Maria pisou de mansinho em território alheio. Não escapou de ouvir rimas infames da torcida Inferno Verde. Bola rolando. Bola prateada, que nem aquela da Eurocopa. Afinal, o Gama não tem Zinedine Zidane, mas tem Michel Platini.
Apanha um tanto da bola, esse rapaz, de nome Michel Platini. Jogando em casa, o Gama tinha domínio das ações, mas se complicava diante da aguerrida (e leal) marcação do Santa Maria. Talvez por estratégia de Gueldini, o Gama recuou para o próprio campo, cedendo terreno ao adversário, a fim de explorar contragolpes em velocidade. Por sorte, o alviverde achou um gol ainda na etapa inicial. Emerson, zagueiro-artilheiro, completou de cabeça um escanteio. ‘‘William! William! William!’’ Um sujeito, descendo as arquibancadas, exigia a entrada do lateral-esquerdo reserva do Santa Maria. ‘‘Esse cabra deve ser pai do William’’, comentou um arquibaldo. ‘‘Sou mesmo. Não tenho o direito?’’
Não, William não entrou. Mesmo assim, o Santa Maria chegou a empatar o confronto. Graças a pênalti do arqueiro Ângelo sobre o atacante Alex. Mas Rodriguinho foi para jogo e, num voleio, devolveu a vantagem aos anfitriões. Victor fecharia a contagem em 3 x 1. Deu 40 do segundo tempo, peguei meu golzinho intrépido. Cheguei em casa a tempo de ver o jogo do Real Madrid.
Bernardo Scartezini
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