domingo, 9 de agosto de 2009

Episódio de hoje: que torcida é essa?

O cara que vai para o Vaticano acreditando que a água benta vai fazê-lo livre de todos os pecados do planeta, volta para casa acreditando que está todo salvo. O cara que vai para a Chapada dos Veadeiros crente que estará num local superiormente interessante, volta para Brasília dizendo que viveu experiências místicas fora do comum. O camarada que vai ao Maracanã querendo acreditar que a torcida do Flamengo é máximo só tem essa certeza quando o time tá ganhando.

Fui ao Mário Filho, na ensolarada tarde deste domingo, imbuído no propósito de desmistificar a nassão flamenguista. Voltei para o hotel convencido de que a torcida rubro-negra vevi (como se diz na pequenina e heróica PB) em um universo completamente diferente do time de futebol Flamengo.



Vamos começar com as notícias boas. Vi poucos malencarados nos portões de entrada, pouca bagunça, pouco ou quase nenhum clima de animosidade. Até porque os flamenguistas estavam entre iguais ali.

Papais de màos dadas com filhinhas de sete, oito anos vestida com motivos flamenguistas cantarolavam o hino do time atravessavam um pequeno grupo de aficcionados uniformizados. Um casal de idosos ouvia de um trio de bombados a importância de o time começar com Pet entre os titulares e não Fierro. Eu procurava um bar para comprar uma latinha de cerveja antes de entrar no Maraca sem ser importunado por cambistas.Mulheres bonitas circulavam incólume pelas calçadas.

Entre os arquibaldos, lá dentro, o mesmo clima de paz reinava, destoando daquela imagem de violenta associada aa torcida do Flamengo.

Na falta de uma Skol ou Antártica ou qualquer cerveja decente, resolvi experimentar Itaipava sem alcool. O que se tornou numa trágica experiência porque passei os 90 minutos restantes com dolor de cabezza. Por falar em dor de cabeça, tive uma no táxi que me levou ao MAraca. Por estar muito em cima da hora, evitei o metrô e peguei um táxi com um casal de Maringá, que encontrei no elevador do hotel. O taxista, para fazer jus aa fama dos taxistas cariocas, errou duas ruinhas de graça e a corrida que poderia ter sido 22 reais, custou 29. Dividido por tres, deu tipo uns nove contos para cada.






Pois bem. A torcida do Flamengo finalmente se tocou e jogou fora aquela faixa 'Brasileiro é obrigação'. Agora, o anel superior do Mário Filho é coberto pelas seguintes faixas: 'Flamengo é maior que tudo e todos', 'Diretoria e jogadores respeitem o Flamengo' (assim, sem vírgula), 'A maior torcida do mundo'.

O que deixa ainda mais à mostra a megalomania injustificável dos flamenguistas. Baseado em que o Flamengo tem a maior torcida do mundo? Aliás, mesmo que tivesse, se torcida grande ganhasse jogo, a China seria octacampeã mundial, seguida de Índia...

Naquela arquibancada amarela que não aparece na transmissão da Globo/SporTV, à esquerda das cabines, se concentra a torcida mais animada do Flamengo. É de lá que vem os cânticos cheios de 'criatividade e paixão'. Do outro lado, no jogo de ontem, estava a Gaviões da Fiel.

Se tivesse um medidor de barulho proporcional, os corintianos espremidos ganhariam de goleada. Porque até os 44 do segundo tempo batucaram e gritaram em favor de seu escrete. Os flamenguistas eram mais facilmente vistos indignados, esticando os braços acima da cabeça, xingando um atleta ou um apito qualquer do árbitro.

Aqueles cânticos 'criativos e cheios de paixão' dificilmente ganhavam coro entre os 49 mil presentes. Aos 17 minutos da etapa inicial, por exemplo, tentaram aquele 'Vamú Flamengo, vamú sê campião...', não durou mais que sete segundos. Dois minutos mais tarde, puxaram um 'raçamoripaixão', que durou 15 segundos.

O jogador mais aplaudido foi um tal de Emérson. Quem? É, Émerson, dispensado do São Paulo uns 11 anos atrás, e neste domingo teve o nome gritado, pedindo para não trocar os salários atrasados pelos petrodólares (de novo). Adriano não foi xingado em instante algum, mesmo nas cinco oportunidades em que perdeu gols claríssimos. Pet foi aplaudido de pè ao sair, com aquela imagem de santo-do-pau-ôco, na metade da etapa final.

A nassão só (se) empolgou quando Dryko marcou gol. Mas aí é muito fácil fazer festa. Até a claque do Brasiliense canta música quando time faz gol, mesmo que seja contra o Guará.

Ao final do jogo, como nào poderia deixar de ser, a torcida flameguista mandou um recadinho: 'Ronaldo é o caralho'. Mas ao vivo a nassão não é mesma que se vê na tela da TV e o grito durou exatos 12 segundos, ou quatro repetições.

Este é o Flamengo. Um time que comemorou a terceira colocação de um campeonato brasileiro desses que passou como se fosse o Goiás ou o Náutico, que nunca ganharam PN. Um time de jogadores que jã foram alguma coisa, como Dryko, Pet e Kleberson, e hoje strugles para fazer a torcida parar de lamentar e inventar uma nova musiquinha. Um time que tropeça na própria tradição e nunca mais vai ser o que foi 30 anos atrás. Que tem um técnico que não é técnico, um atacante que já se declarou aposentado e um arrasta-b*sta com a camisa 43.

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