Kaká declarou anteontem que é "mais completo que Maradona". Pura verdade. A exemplo de Pelé, nosso atleta da Renascer é, sem trocadilho, renascentista: clássico, equilibrado, simétrico, apolíneo, quase o "homem vitruviano" de Leonardo da Vinci. Já Maradona é barroco, excessivo, torto, dionisíaco, trágico como Garrincha.
Sem querer entrar no terreno minado das "raças", mas permanecendo no campo do imaginário, Pelé e Kaká passam uma certa ideia de pureza, preto e branco imaculados. Já em Garrincha e Maradona as etnias, as cores, perdem-se numa mestiçagem confusa, em que entram o branco, o negro e o índio. O futebol, como a vida, precisa de uns e de outros, Apolo e Dioniso, o equilíbrio e o excesso, Kaká e Messi, Mascherano e Robinho, Pelé e Maradona, Borges e Guimarães Rosa.
José Geraldo Couto, Folhasp, 05/09/09
Nenhum comentário:
Postar um comentário