A chegada ao estádio, 40 minutos antes da peleja, foi tranqüila, embora uma boa quantidade de vascaínos e atleticanos goianienses já estivessem por ali. Acompanhado de meu irmão vascaíno, meu sobrinho gremista e um amigo do meu irmão com seu filho – acho que, respectivamente, flamenguista e são-paulino –, adentrei a arena em questão de segundos.
A torcida foi chegando aos poucos, e quando os times entraram em campo os quase 19 mil espectadores já faziam uma festa bonita – embora em vermelho e preto. A média do Atlético-GO é de pouco m
O jogo foi um verdadeiro clássico da Segundona, que valeu cada centavo dos 50 reais cobrados pelo ingresso para as cadeiras – preço superhiperinflacionado, 150% acima do valor normal para os outros confrontos do time local. Se o Vasco tivesse tomado uma benga de quatro ou cinco, placar que se desenhava até quase o fim do primeiro tempo, eu não teria ficado mais satisfeito. O drama épico que presenciei, com três expulsões, dois pênaltis e o Vasco incapaz de virar com dois homens a mais, não tem preço!
Meu irmão passou todo o jogo reclamando do senhor Evandro Rogério Roman, árbitro paranaense que faz parte dos quadros da Fifa. Foram tantas faltas ridículas marcadas pelo apitador que mi hermano vaticinou: esse jogo vai entrar pro Guinness Book pelo recorde de faltas, pelo menos umas quinhentas. No entanto, ele não reclamou quando, aos 41 minutos do primeiro tempo, Evandro Roman apontou para a marca do cal. Na hora eu não tive condições de avaliar o lance, mas conferindo a imagem da TV, não há dúvidas: pênalti inexistente! Foi um lance capital, preponderante para a reação do Vasco. O Atlético estava tão melhor em campo que até lembrei daquela sacanagem contra o Flu enfrentando o Barcelona, mas trocando os protagonistas: pênalti por Vasco, gol do Atlético-GO! Mas Carlos Alberto cobrou bem e os cariocas foram para o vestiário satisfeitos.
Na volta para o segundo tempo, enquanto os seguidores do escrete rubro-negro gritavam “Ladrão, ladrão”, ao ver três homens de preto voltando a campo, os vascaínos estavam caladinhos. Nem pareciam aqueles fanáticos que berravam “Ei, juiz, vai tomar no c...” até os 40 minutos da primeira etapa.
E mal começou a metade final do espetáculo, Jairo apareceu na linha lateral aos dois minutos aplicando uma flying scissors que foi devidamente premiada com um vermelho. Ele já tinha amarelo por uma bordoada no Carlos Alberto, mas, aparentemente, não ficou satisfeito apenas em marcar o primeiro gol do Atlético, tinha que ficar mais tempo sob os holofotes. Ô, Jairo, campeão da Série B pelo Gama, fazendo um papelão desses!
O embate virou ataque contra defesa, e o Vasco não saía do campo do Atlético. Questão de tempo pra virada, ainda mais depois que mais um zagueiro já amarelado por caçar o Carlos Alberto na primeira etapa foi mandado pro chuveiro por dar outra porrada – ao menos essa foi providencial, o jogador do Vasco ia entrar “com bola e tudo”.
Foi então que Carlos Alberto encarnou sua persona de herói trágico. Meu amigo vascaíno disse que tem pena do cara, pois joga muita bola – realmente é bacana vê-lo em campo, habilidoso, boa visão de jogo, qualidades suficientes para ser um craque –, mas, na Hora H, faz cagada. Típico comedor de coco. Sofreu o pênalti que valeria a virada, mas resolveu inventar uma paradinha ridícula e, quando soltou aquele peidinho de velha, o arqueiro Márcio, que já tinha se adiantado uns cinco metros, praticamente encaixou a bola. Vai ver que o Carlos Alberto se desconcentrou quando Márcio, pouco antes da cobrança, saiu andando para falar com o juiz – teria ido perguntar as horas? –, em mais uma cena de catimba explícita, lembrando aquele frangueiro safado da LDU, o tal do Cevallos, na final da Libertadores contra o Fluminense.
A torcida do Vasco, que cantava em êxtase segundos antes “O Vasco é o time da virada!”, levou as mãos às cabeças, e eu me perguntei: “Cadê a virada?”.
Pouco depois, lá pelos 40, Carlos Alberto finalizou o roteiro tragicômico escrito para ele ao driblar o goleiro e concluir para gol um lance que já tinha sido paralisado um zilhão de segundos antes por impedimento. Segundo amarelo, e o guerreiro cruzmaltino sai de campo cabisbaixo. Os vascaínos vão reclamar que o primeiro amarelo, logo aos oito do tempo inicial, foi injusto – concordo. Mas, colocando na balança, pra onde ela pende: Carlos Alberto expulso aos 40 do segundo tempo, ainda deixando o Vasco com um a mais; ou pênalti inventado aos 41 do primeiro, ressuscitando o clube carioca no jogo?
Enquanto eu falava da infindável capacidade do Carlos Alberto de fazer merda, um torcedor do Vasco na fileira em frente me olhava, sem esboçar uma palavra, com uma expressão que eu não soube identificar: seria incredulidade com o que estava acontecendo, reprovação aos meus comentários, ou ele se perguntava: “Que diabo esse cara com a camisa do ABC tá fazendo aqui?”. Ah, o ABC teve uma vitória heróica em Natal no mesmo dia, 2 x 1 sobre o Juventude, e saiu da lanterna da Série B. Agora está a apenas 19 pontos do G4. Uhu!!!!
O último momento em que a torcida do Vasco se manifestou foi ao ver o quarto árbitro levantando a placa indicando somente dois minutos de desconto. Ecoaram mais alguns “fdp” pelo estádio, mas a fatura já estava definida. E eu encarei o engarrafamento colossal na saída do estádio como um tempo para reflexão, relembrando lance a lance mais um Atlético-GO x Vasco para sempre na memória!
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