quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Episódio de hoje: Where all the black people go?

Encontrar um negro nas arquibancadas do Estádio Olímpico é a mesma coisa que ouvir um discurso do presidente Lula sem erro de concordância. Ou ver o atacante Dodô chorando de amores por algum time. Ou mais: ler alguma crítica do presidente deste Cbet, White Martins, sobre as sempre pertinentes convocaçòes de Bunga.

Até torcedor do Treze a gente vê no estádio.
A reportagem do Cbet esteve no clássico regional entre Grêmio de Football Portoalegrense e Hawaii. O Olímpico gaúcho lembrava o Olímpico alemão da Olimpíada de 1938.

Só gente desbotada (e aí eu me incluo) e alguns punks (que eu não me arrisquei a tirar fotos, afinal sou nordestino). Para não dizer que o clima era hostil, havia famílias, muitos grupinhos de mulheres vestidas com a calça da moda (uma calça colada no corpo, preta, increíble), senhores de idade...

Flagrei um momento de emoção de um senhor com camisa retrô do Grêmio. Enquanto caminhava pelo concreto mais ou menos na região da entrada da área do gol à esquerda das cabines de imprensa:

- Filhô! Foi aqui que o vovô viu o segundo gol da final da Libertadores. Da primeira final...

O piá fez pouco caso.

Ontem ele poderia ver o crássico regional de onde bem entendesse. Desde que tivesse $40 pra pagar pelo ingresso mais barato. O público pagante foi de nove mil e uns quebrados. Em breve chegará a nota ao presidente do Cbet para reembolso.

Pois bem.

Se você não estiver em um grupo de amigos, dificilmente você vai conseguir puxar papo nas arquibancadas do Olímpico. Tentei por três vezes em locais diferentes. Sempre com o mesmo papo:

- Porra, o Souza demora demais para tocar a bola...

Ninguém respondeu.

Depois que Souza fez o terceiro gol, mudei o tom:

- Bah, que jogadaça do Souza, hein, tchê?

Fiquei no vazio de novo. No máximo, uma resposta positiva com a cabeza.

Talvez se eu começasse a cantar com sotaque portenho:
Daleô, o Grêmio é copêro! Daleó, campiãomundiallllll

Uma musiquinha que serve como justificativa para o fiasco do time no campeonato de pontos corridos (do ano passado, inclusive!!).

Durante o primeiro tempo, eles cantaram quatro musiquinhas estilo argentina. E gesticularam como se estivessem arremessando para o alto formigas presas ao couro das costas da mão. Só por um minuto os barrabravas pararam de cantarolar no primeiro tempo, na expulsão de Rochembach.

Como não consegui ver a expulsão, fui para a área em frente à linha que divide o gramado para acompanhar o jogo pelo Premiere Sportv. A transmissão tem pelo menos 30 segundos de delay. Dá para ver o jogo todo DUAS vezes.



O local tem aroma de pista de dança de boate jamaicana. É legalize total por ali. A polícia não circula entre os arquibaldos.









O curioso é que em boate jamaicana só tem negão. No time do Grêmio que manteve, ontem, sua invencibilidade no Olímpico neste BR conta com cinco negros entre os titulares, e aí eu coloco os morenos Souza e Réver nesta conta, as jogadas dos TRÊS gols de ontem foram desenhadas por neguinhos (Perea sofreu pênalti; Souza deu a primeira assistência; Douglas lançou para Souza).

O produto mais consumido no Olímpico tem nome de Nêga Maluca.











Em meio à bandeiras uruguaias, com fotos do Hugo de Leon ou do Dinho (!!!), tem uma homenagem ao ponteiro Tarcísio, o Flecha Negra. Aliás, foi por ali que vi o único caboclo do estádio (esse senhor sentado aqui, no canto de baixo da foto). Para o IBGE e para a torcida do Grêmio ele é negão.

Ao final do jogo, ainda fui a um bar da famosa rua Lima e Silva ver o finalzinho da derrota do Inter para o Trico. A coisa tá preta pro Inter...

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