domingo, 1 de novembro de 2009

Desabafo de um esquizofrênico futebolisticamente falando

Não sou um sujeito pessimista, não acho que meu time vai sempre perder, não acho que é o fim do mundo. Mas sou extremamente realista. Por isso eu venho repetindo há meses que o Fluminense já está rebaixado para a segunda divisão. Eu acho que o tricolor caiu exatamente na última rodada do turno, quando perdeu do Coritiba no Maracanã. Foi ali que, mesmo com uma combinação de resultados improvável - e que aconteceu -, tínhamos a chance de sair da zona em que estamos há desde sempre.

Fomos rebaixados não porque temos um elenco ruim - o que era o caso do Vasco no ano passado, por exemplo. Temos jogadores ruins, mas temos muitos jogadores bons. Fomos rebaixados não porque temos uma diretoria que fala merda - o campeão da soberba e de falar merda é o Flamengo, mas o time está aí, praticamente garantido na Libertadores de 2010. Fomos rebaixados não porque demitimos técnicos. TODAS as demissões, desde a do Parreria, a não-efetivação do Eutrópio e o despacho do Renato Gaúcho, foram justas e merecidas. E teriam acontecido também no São Paulo, no Palmeiras, no Inter e em qualquer clube dito organizado.

O futebol é simples. Fomos rebaixados porque alguns jogadores tiveram seguidas atuações ruins e foram mantidos no time - Luiz Alberto, Mariano, Fabinho, Adeílson e mais duzentos nomes. Fomos rebaixados também pelo outro extremo: contratamos duzentos jogadores que entravam uma ou duas vezes e logo eram sacados. Porque contratamos jogadores lesionados. Porque demos muito, mas muito azar em vários jogos e tomamos uma penca de gols nos últimos 10 minutos. Fomos rebaixados porque não temos preparo físico. Fomos rebaixados, resumidamente, porque perdemos pontos inadmissíveis em casa. Não gosto de jogar a responsa em um cara só, mas, sim, por conta de toda essa mistura aí em cima, a ausência do Fred em 17 jogos no semestre foi crucial para termos caído. Os números falam por si: desde que ele voltou, o ataque passou a marcar, o time passou a lutar mais e já não perdemos há sete jogos. Mesmo assim, estamos a cinco pontos do último time fora da zona. Faltando cinco rodadas. De novo, peço desculpas a quem vive em outro mundo, mas já caímos.

Fomos derrotados, às vezes goleados, por Santo André, Coritiba, Goiás, Santos. Empatamos duas vezes com o Barueri. Empatamos com o Vitória num jogo que estava ganho. Por isso jogaremos a Segunda Divisão no ano que vem.

Reparem que não citei nenhum time grande nessa odisséia às avessas do tricolor. Como bem disse certa vez (e repetidas vezes) o Reverendo, é nesses jogos que se decide o futuro do seu time no Brasileirão. No ano passado foi assim. Lembro que o Grêmio apanhou em casa do Figueirense, o Palmeiras perdeu do Sport, o Cruzeiro levou uma surra do Vitória, o Flamengo perdeu pontos idiotas para o Atlético-MG. E no fim das contas, quem levou o título foi o São Paulo, que não vacila nunca. Ou que vacila menos.

Toda essa lenga-lenga é para dizer que hoje, neste domingo, eu vivi uma situação inusitada. Eu sei que meu time está rebaixado. Desde agosto, como disse acima - claro, não vou ficar discutindo com alguns amigos iludidos que ficam fazendo projeções do tipo "e se", "ainda dá", mas, na boa, já era. A única coisa que deixaria o campeonato menos triste seria mais uma pagação de mico do nosso arqui-rival. Tipo a do ano passado, chegar em quinto lugar.

Ironicamente, a tabela do já rebaixado Fluminense mostrou três jogos contra times que poderiam deixar essa dor pelo quarto rebaixamento menos pungente. Era o caso de o Flu não ganhar, não atrapalhar o caminho de Atlético-MG, Cruzeiro e, quem sabe, Palmeiras. Era o caso de deixar quieta essa ilusão de que dá para escapar. Mas não. Por razões que o Sobrenatural de Almeida jamais acharia plausíveis, o Fluminense resolveu jogar numa hora em que o bovino já está há tempos pastando à beira do córrego.

Então, o sentimento que deveria ser de euforia pela fantástica vitória obtida hoje contra o Cruzeiro no Mineirão se confunde muito mais com uma agonia pela certeza cada vez mais clara que, este ano, o Império do Mal pelo menos para a Libertadores vai - e com uma providencial ajuda das Laranjeiras.

Voltando ao Flu, o que mais dói nisso tudo é ver que, não tivesse ficado de fora das tais 17 partidas neste segundo semestre, o Fred poderia estar brigando pela artilharia, cavando uma vaga na Seleção e até ajudando o Flu a ficar ali na zona intermediária. É nítido que o Fluzão não tem um elenco dos piores. Mas não adianta chorar o leite derramado.

Ainda é capaz de ganharmos do Palmeiras semana que vem. E continuarmos a cinco pontos do último time fora da zona. Milagres acontecem. Mas nesse caso, não é questão de fé. É questão de lógica, realismo, resignação e inteligência: como diria Jack Bauer, "that ship is sailed".

A exemplo do Fred, eu não tenho ânimo nem para comemorar este resultado obtido de forma heróica. O conjunto da obra em 2009 é melancólico. Pior até do que na trinca de rebaixamentos vivida há pouco mais de uma década.

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