A desanimada Copa do Mundo
Do blog http://penaafrica.folha.blog.uol.com.br/
JOHANNESBURGO (ÁFRICA DO SUL) – A Copa do Mundo terá vários problemas, como acontece em todos os eventos esportivos internacionais. E isso não tem necessariamente a ver com o fato de a sede ser um país rico ou pobre.
Vejam por exemplo as recentes críticas às Olimpíadas de Inverno, em Vancouver (Canadá), cidade que costuma aparecer no topo da lista das melhores do mundo para se viver. E é melhor nem lembrar do desastre que foi Atlanta-96.
Mas a Copa dará certo mesmo assim, muito porque a África do Sul surpreendeu em vários quesitos (especialmente na construção dos estádios) e também porque, bem, de um jeito ou de outro, sempre dá certo.
Há algo que é bem mais difícil do que construir grandes estádios, reformar aeroportos e treinar policiais, no entanto. É criar uma expectativa na população, uma empolgação com o evento. Não sei bem explicar, e já disse isso aqui antes, mas eu não vejo isso acontecendo por aqui. As pessoas não falam da Copa com brilho nos olhos.
Parte disso, imagino, deve-se ao fato de ninguém dar um tostão furado pela seleção sul-africana. O futebol aqui é estranhamento o esporte mais popular e ao mesmo tempo o menos importante –claramente atrás do rúgbi e do críquete, seus concorrentes diretos. Muito porque o futebol é, numa generalização aceitável, o esporte dos pobres e os outros dois, dos ricos. E também porque o futebol jogado na África do Sul é, convenhamos, de péssima qualidade, enquanto o país é um dos melhores do mundo no rúgbi e não dá vexame no críquete.
Os organizadores da Copa, coitados, se esforçam. A imprensa tenta ajudar. Toda semana tem uma campanha nova nas ruas para “empolgar” a população. Inventaram primeiro um tal “Football Friday” (sexta-feira do futebol), para que as pessoas trabalhem com a camisa da seleção (poucos o fazem). E ontem surgiu a “Fly the Flag” (algo como hasteie a bandeira), pedindo que todos agitem bandeirolas sul-africanas pelas ruas.
Ontem também foi a data simbólica de 100 dias antes do início da Copa. A Fifa e os organizadores tentaram promover eventos de rua em todo o país. Fui ver um deles, no bairro chique de Sandton, em Johannesburgo.
A rua ficou longe da lotação máxima. Num palco, DJs se revezavam tentando mostrar alguma animação. Distribuíram, vuvuzelas (a essa altura vocês já sabem o que é isso, né?) para crianças de escola que foram devidamente carregadas para lá em ônibus da prefeitura.
Policiais distribuíram camisetas, e havia cachorro-quente grátis.
Bolas estavam ali, também prontas para serem dadas como brindes.
E, num esforço bem intencionado de publicidade cívica, lá estavam criancinhas negras e brancas brincando juntas.
Tudo direitinho, tudo bem organizado, tudo bem pensado, e tudo frio como um bloco carnavalesco em São Paulo. O DJ parecia um mágico de festa infantil desanimada, tentando a todo custo empolgar uma audiência sonolenta.
Ainda há 100 dias para esse país se eletrizar, é verdade, mas hoje arrisco um palpite: há mais chances de esta Copa ser lembrada por seus estádios “europeus” do que por sua animação “africana”.
Escrito por Fábio Zanini
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