quinta-feira, 11 de março de 2010

O imperador, seu capitão e o bobo da corte *

"O Flamengo conquista o campeonato brasileiro depois de 17 anos e, em três meses, o dirigente ameaça, aos berros, expulsar do clube um dos protagonistas da conquista e chama outro de alcoólatra"

Deixa que eu chuto. Falar mal do Adriano virou esporte nacional. Pinguço, cachaceiro, pé de cana. Tem até dirigente do Flamengo chamando seu jogador de alcoólatra. O imperador está nu, e ostenta uns quilinhos funky a mais na silhueta majestática. Escândalo.

Deves estar cansado, estimado leitor, de falar em Adriano & bebedeiras. Eu estou. Bem preferia ocupar este nobre espaço com amenidades. Como o vistoso time do Santos, as oitavas da Champions League. Contudo, o dever me chama e saio logo a avisar que — sim — sou Flamengo. Prossiga neste texto por sua conta e risco, incauto viajante.

Imperador Adriano, o Breve, voltou à Gávea por caminhos tortos. Depois de dar um perdido na Inter de Milão e anunciar, em coletiva de imprensa, que estava a se retirar do desporto profissional. Com a mesma agilidade demonstrada ao perderem Ronaldito para o Corinthians, os cartolas rubro-negros resgataram Adriano do INSS. Até maio.

Agora não venham me falar que não sabiam o que estavam arranjando. Como disse Andrade, o único camarada sensato nessa história, se Adriano fosse profissional exemplar, no Brasil ele não estaria. Adriano chegou pesando feito um leitão. Deixou claro que não treinaria todo dia. Foi campeão nacional, terminou o certame como um dos artilheiros. Só aprontou na penúltima rodada, ao aparecer com aquela bolha no pé. Para dar mais emoção. E voltou à Seleção.

Adriano, desde então, vem se arrastando. Por isso mesmo levou bronca do sempre simpático Dunga em Londres, em um episódio mal explicado, como tudo mais que cerca aquele senhor e o time dele. Pelo jeito, isso bastou para Adriano perder a estribeira de vez.

Não sabemos como o gentil Dunga se portou com ele. Sabemos como Bruno Souza, por exemplo, se portou. O arqueiro Bruno é o capitão do Flamengo. Pela hierarquia da bola, seria o primeiro a chamar a atenção do colega e pedir mais empenho, a oferecer ajuda. Não. Bruno é o primeiro a botar pilha errada.

Marcos Braz, vice-presidente de futebol do Flamengo, completou o serviço. À imprensa, deu o diagnóstico que seu contratado é alcoólatra. E garantiu que, se o jogador tivesse drogado, em vez de bebum & deprê, o jeito seria fingir uma lesão, tirá-lo do jogo e escapar do antidoping. Braz já tinha dado uma bela mostra do seu tato no rumoroso caso Petkovic. Rumoroso, em boa parte, por conta dele. Perceba... O Flamengo conquista o campeonato brasileiro depois de 17 anos e, em três meses, o dirigente ameaça, aos berros, expulsar do clube um dos protagonistas da conquista e chama outro de alcoólatra. Um profissional entre profissionais.

Ontem à noite, o Flamengo venceu o Caracas pela Libertadores. Sem Adriano. A sequência de jogos, entre estadual e continental, traz ainda Vasco, Universidad de Chile e Botafogo. Se o time sair vivo dessa, Adriano pode escapar de pagar a conta do bar. Caso contrário, vamos todos lavar prato na cozinha. Ou lavar roupa suja na imprensa.


* Bernardo Scartezini escreve às quintas-feiras no Super Esportes

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