quarta-feira, 31 de março de 2010

Sobre a CBF e o Clube dos 13

JUCA KFOURI*

Teixeira mira a Fifa

Ao apoiar Kléber Leite para presidir o Clube dos 13, Ricardo Teixeira inicia seu projeto pós-Copa 2014

DA CARTOLA da CBF, e com o apoio da parceira de sempre, a Traffic, e da Globo Esportes, o ex-presidente do Flamengo Kléber Leite emerge como candidato ao Clube dos 13, com eleição prevista para dezembro.

O atual mandarim da entidade, o gaúcho Fábio Koff, sente nas costas a dor por também ter traído o ideal que norteou a fundação da entidade, em 1987, qual seja o de ser a Liga dos clubes brasileiros.

Com a ajuda de Koff, o Clube dos 13 virou apenas uma agência que intermedeia os negócios com a TV. Agora, no entanto, ele não é mais confiável. Cuspa-se.

Teixeira precisa de alguém em quem possa confiar plenamente e por muitos anos, porque, depois que comandar a Copa no Brasil, quer ser presidente da Fifa, com eleição prevista para 2015.

Leite tem um discurso moderno e uma prática antiga, como já demonstrou sobejamente sempre que esteve no poder.

É dono de empresa de marketing esportivo, já foi sócio de J. Hawilla, assim como ambos são velhos parceiros de Teixeira, mais velhos até do que Marcelo Campos Pinto, da Globo Esportes.

Ocupado com a Copa do Mundo e com a melhor grife do futebol mundial, a seleção brasileira, cuja camisa se encontra, diferentemente das dos nossos clubes, em qualquer loja de material esportivo do planeta, Teixeira sabe que a CBF não tem mais como cuidar das diversas divisões do Brasileiro e da Copa do Brasil.

E precisa de alguém, de absoluta confiança, para fazê-lo.

Leite é uma dessas pessoas, tantas já foram as demonstrações de fidelidade numa caminhada em que Teixeira, Leite e Hawilla construíram enormes fortunas pessoais graças à militância no futebol.

Verdade que ele não conta com o apoio do Flamengo, pois fez oposição à presidenta Patrícia Amorim.

Mas ter Teixeira como cabo eleitoral parece, diante da fragilidade dos presidentes dos nossos clubes, suficiente para se eleger, embora haja quem pense em reagir.

Até as pazes com Alexandre Kalil, o presidente do Galo e um de seus principais desafetos, Teixeira tratou de fazer, tudo em nome de pavimentar o caminho para o mais importante, a presidência da Fifa.

Sim, Teixeira, que era fã de Collor, que afrontou Itamar no voo da muamba, foi tratado a pão e água por FHC e virou amigo de infância de Lula, também é um pragmático.

Se seu ex-sogro, João Havelange, chegou à Fifa depois de presidir a CBD e do tricampeonato, ele também pode na CBF, já bi, quem sabe tetra depois de mais duas Copas.

O jogo é esse e pode até ficar pesado, porque, se Koff não capitular mais uma vez em nome de alguma conveniência como é de seu feitio, o veremos com um discurso novamente radical, como aquele que fazia antes de assumir o Clube dos 13, lá se vão longos, e penosos, 14 anos -menos apenas do que os 21 de Teixeira na CBF, que serão, se nada mais grave acontecer, 26 até 2015.

Curiosamente, uma das bandeiras de Leite é mudar o estatuto para impedir mais de uma reeleição…

Jogo tão pesado que Koff foi buscar um especialista em baixar o nível para assessorá-lo, o ex-presidente do Vasco Eurico Miranda.

Relembranças

Não houve espaço ontem, aqui, para lembrar que quando João Havelange ganhou a Fifa perdeu a CBD, o que Ricardo Teixeira não quer correr o risco de ver, mais uma razão para apostar em Kléber Leite.

Havelange, por sinal, aos 94 anos, anda mais na moda do que nunca.
É um tal de entrevista aqui, prêmio acolá, mais entrevista ali, sempre para negar que só fez aquilo que jura jamais ter feito, isto é, política. E com pê minúsculo, porque invariavelmente envolvido com ditadores de direita e de esquerda.

A primeira eleição na CBD depois que o poderoso Giovanne, como Teixeira gosta de chamá-lo, assumiu a Fifa teve vitória do saudoso Giulite Coutinho, contra o candidato de Havelange, Rubens Hoffmeister, gaúcho como Fábio Koff.

Hoffmeister era uma espécie de Eurico Miranda, que hoje apoia Koff.

E Coutinho foi o melhor presidente da história da CBD/CBF.

*Trechos das colunas publicadas na “Folha de S.Paulo” no domingo e na segunda-feira passados.

(Nota do Zethi - ontem, no CBN EC, o Renato Maurício Prado avisou ao Juca que não existe "a menor chance" de o Kleber Leite vencer a disputa. Disse que o cacique flamenguista tem apenas quatro votos. "O Fábio Koff está reeleito. É uma eleição decidida", cravou.)

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