quinta-feira, 22 de abril de 2010

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São Paulo, quinta-feira, 22 de abril de 2010



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JUCA KFOURI

A vitória de Dunga


Na derrota do Barça para a Inter, o técnico da seleção brasileira há de ter reforçado suas convicções

E NÃO HÁ nenhuma ironia ou malícia na constatação: a Inter de Mourinho e seus sul-americanos jogou contra o Barcelona de Messi e Guardiola como Dunga prega. E não se diga que foi apenas a vitória do futebol de resultados, porque a exibição da equipe italiana foi além de pragmática, tamanha sua eficácia ofensiva, apesar de com auxílio da arbitragem, e exuberante excelência defensiva.
Não nego que lamento ter de constatar, adepto que sou da escola catalã, que já me ganhou não apenas a cabeça, mas o coração.
Mas não há como negar a aula dada em Milão anteontem. Nem a admiração de ver a atuação de Thiago Motta, marcador implacável e limpo do brilhante Lionel Messi. O Barça deve estar arrependido de tê-lo deixado ir embora, até porque já o tinha visto se dar bem na marcação de Zinedine Zidane contra o Real Madrid.
Não chega a surpreender que alguém como Messi tenha mais dificuldade ao enfrentar marcadores que têm a mesma cultura futebolística dele, sem que isso signifique dizer que os marcadores europeus têm, necessariamente, cintura dura, porque não é verdade.
Mas os defensores sul-americanos são mais alertas para a possibilidade do improviso, da criatividade desmedida, razão pela qual procuram se antecipar e não dar espaço para gênios como Messi.
O grande goleiro argentino Agustín Mario Cejas, que o Santos trouxe do Racing e que depois brilhou ainda no Grêmio, sempre falou que contra atacantes brasileiros e argentinos era preciso ficar com os dois olhos permanentemente abertos e com o sexto e o sétimo sentidos ligados.
A vitória interista foi categórica a ponto de não permitir desculpas nem pelo erro no terceiro gol, de Milito, nem pela maratona rodoviária da equipe catalã.
Que há de nos brindar com uma exibição de gala no Camp Nou no jogo de volta, pelo menos para introduzir alguma dúvida na cabeça do técnico Dunga.
Sim, porque o maduro Mourinho deu mesmo um nó no promissor Guardiola e reforçou no treinador brasileiro a noção de que a arte encontra seus limites quando vigiada de perto, como se fosse proibida.
E que dá para vencer a arte jogando bem, sem truculência, mesmo que a bola fique mais com o outro do que com você, desde que, é óbvio, você saiba exatamente o que fazer com ela quando a retoma.
Nem por isso, é mais claro ainda, deixa de haver lugares para Ganso e Neymar em qualquer time do mundo neste exato momento em que o Santo André estará se inspirando na Inter de Milão.

Viva la muerte!
Os seguidores do sanguinário generalíssimo Franco, ditador da Espanha por 36 anos, exaltavam a morte com ardor.
Juan Samaranch, que presidiu o COI por longos 21 anos, era seu seguidor, apesar de catalão.
E sua imagem ficará marcada também como a de quem implantou o modo não transparente de gestão no esporte olímpico, tantos foram, entre outros, os escândalos de compra de votos para definir sedes olímpicas em sua gestão.
É duro, mas tem de ser dito.

blogdojuca@uol.com.br

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