domingo, 18 de abril de 2010

o dia em que o canarinho saiu voando (e não voltou mais)

tem uma tese por aí a dizer que o fracasso no mundial de españa-82 somado, tempos depois, ao sucesso no mundial dos states-94 acabou por condenar o antigo futebol brasileiro a se tornar o "futebol brazileiro" que hoje vemos em excur$ões mundo afora.
ou seja, um futebol vencedor, guerreiro & milionário. e chato pra cacete.
claro que o futebol-de-resultados já grassava em solo pátrio bem antes da dupla pincelada do trio de artistas telê santana, doutor sócrates e antunes coimbra (1982, 1986). volante porradeiro já existia às dúzias bem antes de d*nga & alemão serem fraldinhas. e sabemos que vexame por vexame, nossa seleção já tinha dado uns bons em england-1966 ou deutschland-1974, só pra citar dois times de copas que perderam na bola e no pau.
me perdoem tamanho anacronismo neste dia de finalíssima da taça rio e semifinal do paulistão, mas bem que eu gostaria de chamar a atenção dos amigos para o videotape que a espn brazil anuncia para logo mais à noite, depois do debate esportivo, lá pelas 22h.
o tape já rolou na terça e rola hoje de novo: a íntegra do brazil x itália de cinco de julho de 1982, partida que entrou para a posteridade como "a tragédia de sarriá". sem dúvida, um daqueles jogos míticos, formadores do (in)consciente colectivo de nossa nação.
a lenda será sempre maior que o facto, mas vale notar alguns pontos no desenrolar da partida. em resumo: a itália abriu o placar em cinco minutos e o brasil suou para empatar. logo depois do empate (drible inkrivel do galo para sócrates bater quase sem ângulo), a itália fez o segundo. e o jogo ficou assim (1 x 2) por muito tempo, quase sessenta minutos. nesse tempo todo, o brasil foi se lançando ao ataque com maior e maior e maior ímpeto. leandro era quase um ponta, como o eder pela canhota, o volante cerezo chegou a ser visto dentro da área italiana ao lado de serginho chulapa. os meias (zico, sócrates, falcão) não guardavam posição e junior muitas vezes se juntava a eles, deixando a ala para eder e afunilando pelo meio. o segundo gol, de falcão, num dos momentos mais excitantes da história do desporto, nasceu justamente de uma infiltrada do leovegildo, que largou a lateral e "derivou", como diria rob porto.
e aqui entra um ponto muito curioso: sabe qual foi a primeira coisa que telê fez depois do gol de empate que nos conduziria à final? tirou eder e botou paulo isidoro. o que vale dizer, nas palabras de hoje, que telê "reforçou o meio". mesmo assim, o terceiro tento de paolo rossi aconteceu como sabemos que aconteceu. num escanteio, ligeiro, bate-rebate na área, junior a dar condição pro arremate.
mudar a história, não mudaremos mais. a história é escrita pelos vencedores, e babau.
ninguém daquele time, nenhum daqueles craques, nem mesmo mestre telê será campeão mundial nunca mais. nada resta a ser feito. além, claro, de prestar sempre as devidas homenagens àqueles personagens gloriosos de nosso futebol.
e todas as glórias para a equipe de enzo bearzot, legítima campeã mundial de 82. e aqui vai mais um motivo pra (re)ver o tape: percebemos logo que essa azzurra não se trata daquele apinhado de grossos & carniceiros que às vezes queremos crer por estas bandas. (à exceção do gentil gentile.) era mesmo um time bem superior, por exemplo, à itália campeã mundial de 2006.
enfim, mudar a história, não mudaremos mais. no entanto, aqui está uma oportunidade de ver uma bela seleção brasileira num jogo muito emocionante. um jogo que mudou o futebol
ah... e aquela canção do júnior, aquela do canarinho, acabou na sarjeta. foi regravada pelo katinguelê em tempo do mundial de frança-1998. pavor.
Voa, canarinho voa / Mostra pra esse povo que és um rei / Voa, canarinho voa / Mostra lá na Espanha o que eu já sei...

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