quinta-feira, 13 de maio de 2010

pra que serve uma selecao brasileira de futebol?

Tem muita gente nervosa com o Dunga. A rapaziada não entendeu como pôde esnobar o menino Neymar e mandar o Ganso para uma fajuta lista de espera. Como pôde chamar o Kléberson e deixar o Toró. De minha parte, te dizer, creio que tudo se explica a partir de uma questão de conceito. Assim... De que serve, para ti, uma Seleção Brasileira de futebol?

Porque a resposta pode ser menos fácil do que parece. Uma Seleção Brasileira serve para mil cousas. Serve para vender cerveja, refrigerante, telefone celular, apresuntados, cartão de crédito, contas correntes, automóveis. Ou vender atletas para a Europa. Serve para unir o povo desta nação. Para jurar à bandeira, cantar o Hino Nacional, colocar a mão no peito. Serve para calar a boca dos críticos. Para exercícios de autoafirmação, para gestos enfáticos e ironias, para demonstrações de coerência, justiça, trabalho. Serve para cumprir agenda mensal de amistosos internacionais. Para divulgar a boa imagem do país, ultrapassar complexos de vira-latas, trazer importantes competições para o território nacional.

Uma Seleção Brasileira de futebol, dizem, já serviu até para pacificar o Haiti por um dia ou dois.
Sim, serve para tudo isso. E se partirmos dessa ideia, bueno, a seleção de Ricardo Teixeira e de seu preposto, Dunga, está pra lá de especial. A missão foi cumprida. E tu podes esticar a folha de serviços prestados: a conquista da Copa América de 2007 e da Copa das Confederações de 2009, o primeiro lugar nas Eliminatórias Sul-Americanas e, vá lá, aquela medalha de bronze nas Olimpíadas de Pequim-2008.

Afinal, uma Seleção Brasileira também serve para vencer.

Mas será que uma Seleção Brasileira, ou melhor dizendo, será que a Seleção Brasileira deve ficar satisfeita & serenada por vencer seus jogos, vencer torneios? Por ser unida e ser guerreira?... Para ti, prezado compatriota, isso basta?

Ou uma seleção, qualquer seleção, seria ainda a expressão da cultura, da história, dos homens que por ali passaram ao longo de anos, décadas, gerações? O modo de jogar e agir da Seleção Brasileira, toda e qualquer Seleção Brasileira, deveria expressar a cultura brasileira? Se houver tal cousa como uma escola brasileira de futebol, e parece que há ou já houve, ela não passaria por vencer e — mais que isso — não passaria por vencer jogando de determinada maneira?
Aliás, a graça da Seleção Brasileira não estaria menos em vencer e mais em como o fazer? E não seria exatamente isso, uma maneira de vencer, que esteve a distingui-la historicamente de outras seleções igualmente tradicionais e vencedoras?

A ânsia de vitória e seu indissociável efeito reflexo — o medo de arriscar e perder — são filosofia pronta e acabada no mundo do trabalho, dos negócios. E no mundo do futebol. A reprovação da troca “do certo pelo duvidoso” é expressão popular, lugar-comum, ideia pronta. Como tantas outras, essa é uma maneira de encarar a vida. E o futebol é igual a tudo na vida.

Mas eu acho chato, bem chato. E tu? Tu curtes poesia?


Bernardo Scartezini escreve às quintas-feiras no Super Esportes do Correio Braziliense e sempre que pode neste Cbet

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