Em 1994 eu tinha 12 anos e, garoto de mentalidade um tanto rebelde e exageradamente aficcionado por meu clube do coração (São Paulo FC), torcia contra a seleção brasileira. Os motivos eram não muito claros, e envolviam: uma desconfiança, também compartilhada pelo resto dos brasileiros, quanto à competência de Parreira para nos levar ao título; falta de consciência histórica, o que não me fez valorizar longos 24 anos em que o Brasil não vencia a Copa do Mundo; antipatia natural (depois transformada em admiração) a jogadores essenciais oriundos de clubes cariocas, como Romário e Bebeto; e, talvez o principal, a ira diante do ato do técnico, ao ter sacado da braçadeira de capitão e do time titular meu maior ídolo, Raí, bicampeão da Libertadores e campeão do mundo pelo Tricolor em 1992.
Em 1994, Raí já jogava pelo Paris Saint-German e certamente ainda constava entre os melhores do mundo. Eu e, acredito, todos os são-paulinos, criáramos grande expectativa por sua participação na Copa. Mesmo que disputando a atenção com os outros supracitados craques, Raí vestia a camisa 10, era um jogador carismático, efetivo craque de bola, e... dera duas Libertadores para o meu time! Acontece que o esquema tático de Parreira, um duro 4-4-2 clássico, favorecia a pegada, a marcação disciplinada, que acabaria vingando efetivamente no futebol mundial. Não havia espaço, portanto, para Raí, jogador extremamente técnico, mas lento e um tanto deficiente na marcação. Além disso, Raí voltava de contusão e não estava em plena forma física. O esquecido camisa 10 marcou o primeiro gol da seleção na Copa (de pênalti, contra a Rússia), mas foi substituído pelo inexpressivo mas disciplinado Mazinho, que jogou até o fim da competição (tendo perdido gol incrível na semi-final contra a Suécia).
Pois bem. Esta era a segunda Copa que eu acompanhava, e a primeira com alguma maturidade. Cheguei a escrever uma história em quadrinhos Bilak sobre a Copa (em que, curiosamente, D*nga marcava o gol do título e Raí era substituído por sua contraparte Bilak, Bi-i). Estava realmente empolgado com o mundial, mas sempre olhava a seleção brasileira com insuportável desdém.
Até que chegou a fatídica partida de quartas-de-final, tão viva ainda na memória de todos que viram aquela Copa. Era um duelo legitimamente titânico. A Holanda, vastamente superior a essa que possivelmente enfrentaremos nas quartas de 2010, era um adversário muito respeitável. Além de uma defesa sólida composta pelos irmãos De Boer, trazia à tona a tradição ofensiva holandesa com craques históricos como Rijkaard (que depois ficou famoso como técnico do Barcelona) e Bergkamp. Era o primeiro desafio de peso para a então (ainda) desacreditada seleção de Carlos Alberto Parreira.
Assisti ao jogo com minha família em uma pequena sala de TV num apartamento da 208 norte. Meus irmãos mais velhos, João e Guga (respectivos Marcondes I e II deste blog) não constam muito bem na minha memória, mas o mais novo, Marcos, aparece vivo por circunstâncias singulares. Brasil x Holanda foi um jogo tenso desde seu incógnito 0x0 no primeiro tempo, com a Seleção perdendo boas oportunidades, jogando futebol ofensivo. Minha postura blasé se mantinha até então, e manteve ligeiramente seu ceticismo após os dois primeiros (e históricos) gols do Brasil. 1: Bebeto cruza da esquerda e Romário, num toque de balé, desloca elegantemente a bola para as redes. 2: em uma falha da tão respeitada defesa adversária, Bebeto passa livre, dribla o goleiro e faz a famosa comemoração do bebezinho.
Até que, em dois lances fortuitos e rápidos, um jogo que parecia morto reverte-se em possível tragédia. O futebol brasileiro encantava, e eu subitamente achei-me envolvido pelo contágio do ufanismo. Os dois gols da Holanda revelaram-se experiências bastante amargas. Sem querer parecer soberbo, minha carreira como torcedor de futebol ainda era curta, e meu time havia conseguido inúmeras grandes conquistas nos anos anteriores. Estava ingenuamente acostumado à vitória.
Após o empate holandês, porém, passei a sentir alguns efeitos estranhos relacionados à angústia futebolística: coração muito apertado, ansiedade incessante, medo, e até suor. Vislumbrei a perspectiva de uma virada inigualável por parte dos holandeses, e o terror de esperar mais quatro anos para a Copa do Mundo voltar a fazer sentido. Empalideci, minha pressão baixou, fui ao banheiro e tive que vomitar. Minha mãe ficou um tanto assustada, mas lembro que meu pai até riu diante da curiosa situação. Mais curiosamente ainda, logo depois, meu irmão Marcos sentiu os mesmos efeitos e também teve que vomitar. Diante disso, minha mãe achou aquilo absurdo e praguejou contra a falta de lógica do fanatismo pelo futebol.
Como todos sabem, Branco, após empurrar um defensor holandês, sofreu a falta que bateu com predestinação, finalizando o placar de um jogo antológico da seleção brasileira. O impacto deste jogo reverberou dentro de mim, e não apenas literalmente. Aprendi algum tipo de lição, certamente não tão patriótica, com aquela experiência. Menos cético e menos arrogante, apliquei esta lição para outras áreas importantes da minha vida. Nunca mais torci contra a seleção brasileira, e torço até hoje por ela, mesmo sob a batuta do técnico D*nga.
Em 1994, Raí já jogava pelo Paris Saint-German e certamente ainda constava entre os melhores do mundo. Eu e, acredito, todos os são-paulinos, criáramos grande expectativa por sua participação na Copa. Mesmo que disputando a atenção com os outros supracitados craques, Raí vestia a camisa 10, era um jogador carismático, efetivo craque de bola, e... dera duas Libertadores para o meu time! Acontece que o esquema tático de Parreira, um duro 4-4-2 clássico, favorecia a pegada, a marcação disciplinada, que acabaria vingando efetivamente no futebol mundial. Não havia espaço, portanto, para Raí, jogador extremamente técnico, mas lento e um tanto deficiente na marcação. Além disso, Raí voltava de contusão e não estava em plena forma física. O esquecido camisa 10 marcou o primeiro gol da seleção na Copa (de pênalti, contra a Rússia), mas foi substituído pelo inexpressivo mas disciplinado Mazinho, que jogou até o fim da competição (tendo perdido gol incrível na semi-final contra a Suécia).
Pois bem. Esta era a segunda Copa que eu acompanhava, e a primeira com alguma maturidade. Cheguei a escrever uma história em quadrinhos Bilak sobre a Copa (em que, curiosamente, D*nga marcava o gol do título e Raí era substituído por sua contraparte Bilak, Bi-i). Estava realmente empolgado com o mundial, mas sempre olhava a seleção brasileira com insuportável desdém.
Até que chegou a fatídica partida de quartas-de-final, tão viva ainda na memória de todos que viram aquela Copa. Era um duelo legitimamente titânico. A Holanda, vastamente superior a essa que possivelmente enfrentaremos nas quartas de 2010, era um adversário muito respeitável. Além de uma defesa sólida composta pelos irmãos De Boer, trazia à tona a tradição ofensiva holandesa com craques históricos como Rijkaard (que depois ficou famoso como técnico do Barcelona) e Bergkamp. Era o primeiro desafio de peso para a então (ainda) desacreditada seleção de Carlos Alberto Parreira.
Assisti ao jogo com minha família em uma pequena sala de TV num apartamento da 208 norte. Meus irmãos mais velhos, João e Guga (respectivos Marcondes I e II deste blog) não constam muito bem na minha memória, mas o mais novo, Marcos, aparece vivo por circunstâncias singulares. Brasil x Holanda foi um jogo tenso desde seu incógnito 0x0 no primeiro tempo, com a Seleção perdendo boas oportunidades, jogando futebol ofensivo. Minha postura blasé se mantinha até então, e manteve ligeiramente seu ceticismo após os dois primeiros (e históricos) gols do Brasil. 1: Bebeto cruza da esquerda e Romário, num toque de balé, desloca elegantemente a bola para as redes. 2: em uma falha da tão respeitada defesa adversária, Bebeto passa livre, dribla o goleiro e faz a famosa comemoração do bebezinho.
Até que, em dois lances fortuitos e rápidos, um jogo que parecia morto reverte-se em possível tragédia. O futebol brasileiro encantava, e eu subitamente achei-me envolvido pelo contágio do ufanismo. Os dois gols da Holanda revelaram-se experiências bastante amargas. Sem querer parecer soberbo, minha carreira como torcedor de futebol ainda era curta, e meu time havia conseguido inúmeras grandes conquistas nos anos anteriores. Estava ingenuamente acostumado à vitória.
Após o empate holandês, porém, passei a sentir alguns efeitos estranhos relacionados à angústia futebolística: coração muito apertado, ansiedade incessante, medo, e até suor. Vislumbrei a perspectiva de uma virada inigualável por parte dos holandeses, e o terror de esperar mais quatro anos para a Copa do Mundo voltar a fazer sentido. Empalideci, minha pressão baixou, fui ao banheiro e tive que vomitar. Minha mãe ficou um tanto assustada, mas lembro que meu pai até riu diante da curiosa situação. Mais curiosamente ainda, logo depois, meu irmão Marcos sentiu os mesmos efeitos e também teve que vomitar. Diante disso, minha mãe achou aquilo absurdo e praguejou contra a falta de lógica do fanatismo pelo futebol.
Como todos sabem, Branco, após empurrar um defensor holandês, sofreu a falta que bateu com predestinação, finalizando o placar de um jogo antológico da seleção brasileira. O impacto deste jogo reverberou dentro de mim, e não apenas literalmente. Aprendi algum tipo de lição, certamente não tão patriótica, com aquela experiência. Menos cético e menos arrogante, apliquei esta lição para outras áreas importantes da minha vida. Nunca mais torci contra a seleção brasileira, e torço até hoje por ela, mesmo sob a batuta do técnico D*nga.
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