sábado, 19 de junho de 2010

O sujeito mais odiado da Copa


Cidade do Cabo - Conheci um dos homens mais odiados na atualidade. Ex-jogador de futebol, o sul-africano de nome e sobrenome holandês, tem traços orientais, pouco mais de 1,70m, 40 anos, veste roupas simples, se apresenta como tal, mas, na hora de defender sua cria, parte pra cima. Neil van Schalkwyk é o responsável pela popularização das vuvuzelas. Ele criou o instrumento no formato de plástico, que agora atormenta jogadores, treinadores e torcedores de todo o mundo.

Apesar de ser tratado como o inventor das vuvuzelas na Cidade do Cabo, onde mora e mantém sua fábrica, Neil prefere ser tratado como o “inovador da vuvuzela”. “Num jogo pelo Santos (da Cidade do Cabo), em que eu era zagueiro, vi as vuvuzelas pela primeira vez na arquibancada. Era fim dos anos 1990. Sempre estive envolvido com a indústria de plástico e decidi juntar todas essas coisas”, contou. Ele largou a carreira de atleta ainda quando era da equipe júnior do Santos sul-africano para se dedicar aos negócios.

O empresário lembrou que, além de símbolo dos fãs de futebol do seu país, a vuvuzela tem origem relacionada aos chifres de koudous (espécie de antílopes), usados para convocar a reunião dos habitantes dos povoados do país. E foi uma desse tipo que ele viu na arquibancada da partida contra o Kaiser Chiefs, de Johanesburgo.

A produção das vuvuzelas de plástico teve início em 2001, quando a fábrica de Neil, a Masincedane Sport, vendeu cerca de 500 instrumentos. “Em 2002, o interesse aumentou e uma empresa patrocinadora do futebol local comprou 20 mil unidades de uma vez”, lembrou.

Em 2004, quando a Fifa anunciou a África do Sul como país-sede da Copa de 2010, um ministro da área econômica comemorou a notícia tocando o instrumento, alavancando ainda mais as vendas. E, em 2009, na Copa das Confederações, a corneta tornou-se, finalmente, uma atração internacional. Agora, a vuvuzela tem roubado as atenções, pois está no centro de uma polêmica levantada por jogadores e treinadores das seleções participantes da Copa.

Cara a cara com europeus

Neil van Schalkwyk decidiu mostrar a cara justamente por causa dessas críticas. Sujeito de poucas palavras, segundo os amigos, ele aceitou participar de uma entrevista coletiva e enfrentar seus maiores críticos, os europeus. Eu estava lá, a convite da Prefeitura da Cidade do Cabo.

Sem titubear, Neil respondeu todas as perguntas, tirando de letra até as questões mais polêmicas envolvendo a corneta. “A vuvuzela é parte muito importante da cultura do futebol na África do Sul. As pessoas têm que respeitar isso”, ressaltou.

Ao ser questionado sobre o fato do barulho das vuvuzelas abafarem os cantos dos torcedores nos estádios, em especial dos europeus e sul-americanos, o empresário rebateu usando novamente a cultura sul-africana. “Sei que os estrangeiros têm suas músicas, assim como nós. Mas muitas das músicas cantadas aqui não são entendidas pela maioria, porque nosso país tem 11 línguas diferentes. Já a vuvuzela não tem esse problema, pois todo mundo entende”, contemporizou.

Diante das críticas, o homem de aparência simples se esquivou como um grande empresário e não se intimidou com as reclamações do português Cristiano Ronaldo e do argentino Lionel Messi. “Eles disseram que não suportavam o barulho, mas foi depois de não jogarem tão bem na primeira rodada. O Messi, por exemplo, não falou nada após a goleada da Argentina contra a Coreia do Sul. Tenho certeza que o Cristiano Ronaldo também vai esquecer isso se jogar bem nas próximas partidas”, alfinetou o empresário.

Barulho no Brasil

Apesar da pressão, a Fifa até o momento tem se manifestado a favor da vuvuzela nos estádios, também com o argumento que é parte de uma tradição africana. Além disso, vale ressaltar que as lojas de produtos oficiais da Copa 2010 vendem vuvuzelas com selo da Fifa, como se fossem a corneta “oficial” do evento.

Com tal apoio, Neil informou que esta não será a primeira e última Copa do Mundo com o som das vuvuzelas nos estádios. “Já estou negociando com duas empresas brasileiras para vender o produto. Espero que em 2014 as cornetas soem no Brasil também”, afirmou.

Sem detalhar o negócio, ele revelou alguns números impressionantes gerados pela corneta barulhenta. Ao longo de 10 anos, sua fábrica apresentou lucro de quase 7 milhões de randes, cerca de R$ 1,75 milhão. Hoje emprega cerca de 100 funcionários e 20 vendedores que atuam nas nove cidades-sede do Mundial. No período de um ano entre a Copa das Confederações de 2009 e a Copa do Mundo, o faturamento cresceu 15%. Neil calcula que existam cerca de 2 milhões dessa corneta, das quais ele detém 25% dos direitos na África do Sul.

Vendida nas lojas e barraquinhas por 20 rands (cerca de R$ 5), a vuvuzela renderá cerca de R$ 4 milhões em vendas durante a Copa do Mundo. Vale lembrar que parte dos lucros vai para a Fifa, já que se trata de um produto licenciado pela entidade.

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