qua, 30/06/10
por Lédio Carmona
Muita gente aproveitou aquela pelada medonha entre Paraguai e Japão ontem para meter o pau no nível técnico da Copa da África do Sul. É até engraçado. Com quem converso, aqui mesmo ou via blog, twitter e emails, não há um discurso uniforme sobre o que se viu até agora nas 56 partidas da competição. Metade acha que a Jabulani está sendo tratada com carinho. Outros, próximos dos 50%, entendem que esse Mundial só não é pior do que o da Itália, em 1990. Exagero pontual e histórico. Se querer ver defeito, que provem com fatos. Dizer que foi (ou está ruim) é fácil. Cheira a lugar-comum, má vontade ou falta do que fazer (e do que dizer).
Desde 1994, não temos uma Copa tão bem disputada e equilibrada (por cima) como a da África do Sul. Foi melhor (e ainda vai crescer mais) do que França-1998, Japão-2002 e Alemanha-2006. É fato que a média de gols não é generosa. Foram 123 gols em 56 partidas, com média 2,19. É pouco. Mas creio que esses números são culpa do excesso de times do baixo clero da bola do que da turma de elite. Não tem jeito: com 32 times, sempre haverá mais quantidade do que qualidade na primeira fase. Dos sete 0 a 0, seis foram na parte inicial. Tudo isso é verdade. Mas não sustenta a tese perversa de que o Mundial é ruim. E vou além: virou lugar-comum dizer que Itália-90 foi um horror. Para nós, sim. Ninguém tem saudade da seleção de Lazaroni. Mas vá perguntar aos argentinos, alemães, camaroneses, colombianos, ingleses e iugoslavos, por exemplo, se eles não gostaram do que viu? Tudo é uma questão de ponto de vista. E ele quase sempre vem com a ótica (e interesse) pessoal de cada um.
Desde 1970, não temos uma Copa tão equilibrada. No primeiro Mundial organizado pelos mexicanos, Brasil, Alemanha, Itália, Inglaterra e Uruguai tinham chances de ser campeões. Antes de o Mundial da África do Sul começar, as bolsas recebiam lances pesados de gente que apostava no título de Brasil, Argentina, Inglaterra, Alemanha, Holanda, Itália e Espanha. Ao fim das oitavas, só Itália e Inglaterra não justificam o dinheiro gasto pelos especuladores. Mas o quinteto que avançou joga bem, convence e deixa o equilibro (por cima) a sustentar uma Copa que está mais aberta do que nunca.
Veja o quadro das quartas. Argentina x Alemanha tem tudo para ser um épico. Brasil x Holanda, idem. Uruguai x Gana marca o confronto da maior Celeste dos últimos 40 anos contra o único (e robusto) representante africano. E a única “barbada”, até segunda ordem, vem do duelo entre Espanha e Paraguai. Ficaram pelo caminho decepções históricas, como Itália, França e Inglaterra, e uma turma competente, como Estados Unidos, Portugal e o próprio Chile. A quantidade de bons times foi maior do que a comprovada baba que incha o Mundial a cada quatro anos.
Grandes jogadores não faltaram. Até agora é a Copa de Messi, de David Villa, de Gyan, de Diego Forlan & Luizito Suarez, de Juan, Lúcio & Luis Fabiano, de Xavi Hernandez, de Fábio Coentrão, de Ozil, Thomas Muller & Schweinsteiger, de Robben, Sneijder, de Veron, de Julio Cesar… Numa boa… Será que está tão ruim assim? Ou nós que somos chatos e exigentes demais e buscamos um tipo de jogo e de liberdade tática que era linda de ser ver, mas que não pertence mais à realidade do jogo competitivo dos tempos modernos?
Como não ver graça e charme nesse evento? Será que não estamos sendo chatos e exigentes demais? Não seria mais nobre reconhecermos que o Mundial-2010 recuperou o desejo dos jogadores de jogarem e lutarem pelas suas seleções? Cansamos de ver choro em campo. As derrotas são sofridas, sentidas e mal absorvidas. As vitórias, comemoradas como a conquista de um territórios numa guerra de 30 dias. Com todo respeito, os ares africanos fizeram muito bem ao futebol. E nos garantiram a melhor Copa dos últimos 20 anos.
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