Lições da Copa
Sempre se pode apontar algum culpado: o técnico, notoriamente turrão; a arbitragem, nunca satisfatória; o goleiro, que se distraiu; o craque, que afinal nem era tão craque assim; o locutor, a imprensa, a vuvuzela.
Seja como for, vale um registro. A derrota da seleção brasileira frente à Holanda veio no mesmo dia em que se divulgavam os resultados de uma pesquisa do Datafolha, segundo a qual o técnico Dunga obtinha 69% de aprovação dos brasileiros.
O índice, obviamente, já terá sido a esta altura volatilizado pelos fatos. Escalações alternativas, jogadores que não foram convocados, esquemas táticos diversos e atitudes emocionais mais flexíveis poderiam ter sido a salvação. Não sabemos. O fato é que, por criticáveis que tenham sido as opções de Dunga, não foram absolutamente insensatas -e o técnico, como tantas outras coisas, foi, para a maioria, bom enquanto durou.
Passou o tempo em que uma derrota na Copa tinha as dimensões de um desastre nacional, e em que a culpa por esse desastre precisava, a todo custo, ser jogado às costas de um único indivíduo.
O Brasil de 2010, sabemos, não é o Brasil de 1970. "Infelizes dos pósteros!", exclamava certo filósofo no século 19, embriagado nas neblinas do declínio europeu. Declínio? O país, hoje, se afirma em mais coisas do que no futebol; contesta hegemonias estabelecidas, cresce e luta pelo seu lugar. Tem parceiros, não fregueses.
Lances de talento e de desequilíbrio emocional, momentos de acerto e de desorientação se alternaram. Depois de uma participação sem brilho, mas sem vexame no Mundial, fica a homenagem a um espírito de luta que, longe das facilidades ou das displicências de outros tempos, o país só ganha em preservar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário