Mais uma vítima da soberba
Briatore ainda não entendeu que ninguém o derrubou. O que o fez cair de maduro foi a soberba
Reginaldo Leme
Flavio Briatore se diz decepcionado com Bernie Ecclestone, o ex-amigo de quem esperava uma defesa incondicional qualquer que fosse a situação. Isso mostra que ainda não caiu a ficha. Briatore ainda não entendeu que ninguém o derrubou. O que o fez cair de maduro foi a soberba. Aquele velho escorregão do ser humano que se sente poderoso demais a ponto de imaginar que nada ou ninguém possa abalar o seu poder. Um erro capaz de derrubar governos não deixaria impune um simples empresário de sucesso na F1.
Ecclestone não vai sentir falta desta amizade agora desfeita com Briatore, mas, como grande negociador de crises que sempre foi, ele até gostaria de ter resolvido também esta antes do duelo final em que uma das partes acabaria mortalmente ferida. Mas Briatore não ouviu os seus conselhos. Algo para fazer o italiano refletir, agora que terá muito tempo sentado numa das mesas do seu clube Billionaire, casa noturna na costa da Sardenha. Até porque este é um reduto de gente famosa e endinheirada apenas dois meses por ano. No resto, uma casa vazia à espera de novo verão europeu. Ele não apenas deixou de ouvir conselhos do ex-amigo Ecclestone como se mostrou pouco inteligente ao dizer para o tricampeão mundial Nelson Piquet, uma pessoa ainda muito bem relacionada e querida no ambiente, que não fazia questão de enxergar seus pilotos como seres humanos, e que a F1 para ele era apenas um negócio comercial.
No alto do pedestal em que se considerava inatingível, ele jamais poderia ver que ali ele, naquele momento, estava decretando seu fim. Não demorou mais do que duas semanas para já sentir que precisaria muito da benção de Bernie Ecclestone, depois de ter os computadores da equipe Renault confiscados por investigadores a serviço da FIA para juntar às gravações das conversas de rádio e dados da telemetria daquela corrida de Cingapura, além de depoimentos de todos os mecânicos e engenheiros colhidos durante o fim de semana do GP da Bélgica.
Já era tarde. Naquele fim de semana, de posse de todas as informações do processo que havia sido detonado ali mesmo em Spa-Francorchamps, eu contei o que sabia durante a transmissão da corrida. Uma emissora como a TV Globo jogando no ar a notícia da apuração do escândalo. Portanto, não tinha mais volta. Só restou à FIA confirmar a existência do processo e até acelerar a sua conclusão. Hoje já posso dizer que eu recebi a informação do próprio Piquet, assim como as outras que alimentaram o noticiário nas semanas seguintes. Tudo feito na maior correção. Eu preservei a fonte. Ele fez com que eu fosse o primeiro a saber de cada novo acontecimento. Quando a FIA decidiu banir Briatore, eu fui acordado por um telefonema do Nelson às 7h da manhã. O cara sempre acorda cedo e ainda contava com um fuso horário de cinco horas para a Europa.
Hoje, revendo tudo, considero extremamente importante o fato de ele nunca ter isentado Nelsinho de culpa. Mas, passada a perplexidade de quando ficou sabendo do caso, ele passou a agir como pai, tentando entender a reação do filho de 24 anos à época do incidente, acuado pelo chefe de equipe com o poder de demití-lo ou renovar o contrato para 2009. A minha primeira reação quando ouvi a história contada pelo pai foi perguntar se ele sabia que a revelação deixaria em risco a carreira de Nelsinho. Ele tinha plena consciência disso. Mas não hesitou em exigir do filho que procurasse a FIA para contar a verdade. E foi assim que tudo começou.
Ecclestone não vai sentir falta desta amizade agora desfeita com Briatore, mas, como grande negociador de crises que sempre foi, ele até gostaria de ter resolvido também esta antes do duelo final em que uma das partes acabaria mortalmente ferida. Mas Briatore não ouviu os seus conselhos. Algo para fazer o italiano refletir, agora que terá muito tempo sentado numa das mesas do seu clube Billionaire, casa noturna na costa da Sardenha. Até porque este é um reduto de gente famosa e endinheirada apenas dois meses por ano. No resto, uma casa vazia à espera de novo verão europeu. Ele não apenas deixou de ouvir conselhos do ex-amigo Ecclestone como se mostrou pouco inteligente ao dizer para o tricampeão mundial Nelson Piquet, uma pessoa ainda muito bem relacionada e querida no ambiente, que não fazia questão de enxergar seus pilotos como seres humanos, e que a F1 para ele era apenas um negócio comercial.
No alto do pedestal em que se considerava inatingível, ele jamais poderia ver que ali ele, naquele momento, estava decretando seu fim. Não demorou mais do que duas semanas para já sentir que precisaria muito da benção de Bernie Ecclestone, depois de ter os computadores da equipe Renault confiscados por investigadores a serviço da FIA para juntar às gravações das conversas de rádio e dados da telemetria daquela corrida de Cingapura, além de depoimentos de todos os mecânicos e engenheiros colhidos durante o fim de semana do GP da Bélgica.
Já era tarde. Naquele fim de semana, de posse de todas as informações do processo que havia sido detonado ali mesmo em Spa-Francorchamps, eu contei o que sabia durante a transmissão da corrida. Uma emissora como a TV Globo jogando no ar a notícia da apuração do escândalo. Portanto, não tinha mais volta. Só restou à FIA confirmar a existência do processo e até acelerar a sua conclusão. Hoje já posso dizer que eu recebi a informação do próprio Piquet, assim como as outras que alimentaram o noticiário nas semanas seguintes. Tudo feito na maior correção. Eu preservei a fonte. Ele fez com que eu fosse o primeiro a saber de cada novo acontecimento. Quando a FIA decidiu banir Briatore, eu fui acordado por um telefonema do Nelson às 7h da manhã. O cara sempre acorda cedo e ainda contava com um fuso horário de cinco horas para a Europa.
Hoje, revendo tudo, considero extremamente importante o fato de ele nunca ter isentado Nelsinho de culpa. Mas, passada a perplexidade de quando ficou sabendo do caso, ele passou a agir como pai, tentando entender a reação do filho de 24 anos à época do incidente, acuado pelo chefe de equipe com o poder de demití-lo ou renovar o contrato para 2009. A minha primeira reação quando ouvi a história contada pelo pai foi perguntar se ele sabia que a revelação deixaria em risco a carreira de Nelsinho. Ele tinha plena consciência disso. Mas não hesitou em exigir do filho que procurasse a FIA para contar a verdade. E foi assim que tudo começou.
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