sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

"torcer pelo Botafogo é tão difícil quanto conquistar um amor sincero"

... E o Botafogo de Futebol e Regatas continua a inspirar os grandes cronistas contemporâneos.

Depois de Paulo Mendes Campos, Vinicius de Moraes, João Saldanha e tantos outros como sói ocorre na nossa história, é a vez do pernambucano-paulistano Xico Sá se inspirar no Glorioso para cometer mais uma bela crônica, publicada na edição dessa sexta na Folha de SP.

Boa leitura a todos!


Botafogo e o amor sincero

Xico Sá

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, o Império do Amor perdeu as forças e, ungido pelas cinzas dos mortos-vivos carnavalescos, o time da estrela solitária fez da descrença o seu trunfo, fez da ressaca e dos reveses anteriores uma orgia pragmática à moda Joel Santana. Se esperávamos show de Adriano e Vagner Love, vimos o iluminado garoto Caio e a força oculta de Sebástian, El Loco, Abreu. Sem se falar no bom combate do argentino Herrera, outro representante do portunhol selvagem em campos brasucas.

Não é fácil levar de seis em um clássico, como aconteceu na partida contra o Vasco, e, no mesmo turno, ressurgir como possível campeão da Taça Guanabara, o glamouroso torneio do verão carioca. O melhor é que a decisão é contra os impiedosos cruzmaltinos, o que põe um indisfarçável sangue de vingança na peleja. Vamos, Fogão, pra cima deles!

Não, amigo, não é fácil ser Botafogo. O Fernando Molica, chapa do balneário, por exemplo, sabe o quanto é complicada tal arte. É tanto que, no flerte com sua mulher, Bárbara, um dia após conhecê-la, deixou na secretária eletrônica da moça a mais romântica das cantadas: "Sou botafoguense, tijucano, separado e com dois filhos. Se quiser jantar comigo, apesar disso tudo, me liga...".Tem cantada mais abusada em matéria de anti-heroísmo?

Com a Unidos da Tijuca na cabeça, os filhos na decência e o alvinegro da estrela solitária na final, o amigo não tem nada a se queixar, no momento, do amor, do samba, do ludopédio e da sorte. É, amigo, torcer pelo Botafogo é tão difícil quanto conquistar um amor sincero, criar filhos no mundão vacilante de hoje, encarar os preconceitos de origem. Que a ótima semana siga gloriosa, Molica.

(...)


O o resto da crônica é sobre a crise no Palmeiras, e como não há integrantes palestrinos no cbet, ouso interromper o texto por aqui, preservando contudo uma parte dedicada aos irmãos Marcondes:

"Na real da guerra, o cara (Muricy) nunca se saiu bem na foto com aquele jaleco periquitoso. Tinha a impressão, desde a primeira imagem dele à beira do campo do Palestra, que ainda vestia vermelho, branco e preto. É um grande profissional, que pode estar em qualquer clube, mas a alma parece tingida de um tricolor que nunca desbota..."

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