domingo, 15 de agosto de 2010

Vexame mundial


Meu time em Sete Lagoas (MG) não é o Democrata Jacaré. Sempre torci pelo Bela Vista, por influência do meu pai, nascido e criado no bairro Santa Luzia, casa do clube alviverde. Na infância e adolescência, assistia os jogos do Bevê pelo Campeonato Amador de Sete Lagoas no acanhado estádio do Garimpo (apelido do Santa Luzia). E me divertia bastante.

Passadas duas décadas, reencontrei o Bevê no meu exemplar da edição de agosto da Revista de História da Biblioteca Nacional. A publicação traz artigo de quatro páginas sobre a excursão do Bela Vista pela Europa, em 1958 (na foto acima, a equipe embarcando no Rio). Já havia ouvido meu pai falar dessa saga, mas nunca tinha visto documento a respeito. Abaixo, trecho do artigo:

É proibido perder

Quando o Brasil ganhou a Copa de 1958, um time mineiro fez uma temporada de derrotas na Europa que mobilizou até o Itamaraty

André Carazza dos Santos

O Globo estampou: “Tragédia nacional”. O jornal mineiro Diário da Tarde foi ainda mais enfático: “Uma tragédia esportiva sem similar na história do soccer brasileiro”. As manchetes não se referiam a nenhuma derrota da seleção brasileira, mas ao time mineiro Bela Vista Futebol Clube. Justamente em 1958 – ano da primeira conquista brasileira da Copa do Mundo –, o clube fez uma campanha desastrosa nos gramados da Europa: perdeu 19 das 23 partidas disputadas.

Originário da cidade de Sete Lagoas, o Bela Vista foi alvo de um amplo e incisivo ataque que envolveu imprensa, autoridades políticas e esportivas de todo o país. O clube foi acusado de manchar a imagem do Brasil e do principal esporte nacional. Afinal, a seleção brasileira desfilava craques que encantaram o mundo, como Nilton Santos, Didi, Garrincha e Pelé. Parecia inadmissível que o Brasil apresentasse um futebol de segunda categoria. A conquista da Taça Jules Rimet havia cristalizado a imagem do Brasil como “país do futebol”. Segundo o antropólogo Roberto DaMatta, esse triunfo permitiu ao brasileiro penetrar no universo saboroso e nobre da vitória. Foi também a partir dessa conquista que o dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues cunhou a expressão “Pátria em chuteiras”.

A imagem vencedora que o futebol proporcionou ao país não podia ser arranhada. Pior ainda se fosse um mês depois de a seleção brasileira conquistar a Copa do Mundo. Mas foi exatamente o que aconteceu: o desconhecido Bela Vista embarcou para o Velho Mundo quando a vitória no mundial ainda era comemorada. A responsabilidade de representar o melhor futebol do planeta era imensa. O exagero da “Nota de Redação” do jornal O Globo em 20 de outubro de 1958 ilustra bem a notoriedade que ganhou o time de Sete Lagoas: “O Caso Bela Vista, assim, é assunto que desafia, em importância, a conquista da Taça Jules Rimet pela Seleção do Brasil”. (...)

Leia a matéria completa na edição de Agosto, nas bancas.

7 comentários:

Luís disse...

Quando se trata de mostrar o futebol brasileiro para o europeu ou americano é como se o cidadão tupiniquim se esquecesse que também tem gente ruim pra caramba jogando futebol no Brasil, e apresenta como se cada um dos (caminhando para) 200 milhões de habitantes fossem melhor, incluíndo mulheres e bebés estivessem na parte da frente de uma fila para melhores do mundo, e o resto viesse atrás, e com algumas milhas de distância do ultimo brasileirinho lá atrás, que por sinal é aquele sem duas pernas, sem dois braços, sem os dois olhos e sem os ouvidos.

Daí quando acontecesse uma destas é como se fossem todos acreanos, uma vergonha para a nassaum...

Fabinho disse...

Renato, que a reportagem não caia novamente nas mãos de seus conterrâneos, como aconteceu com o post sobre o estádio do Democrata, ou a Câmara de Vereadores da cidade acaba te excomungando e tirando seu título de cidadão Sete Lagoano...

Anônimo disse...

Sempre assim, times mineiros não cansam de dar vexames...o último que inventou de disputar uma competição internacional perdeu uma Libertadores em casa.

Felipe disse...

Quem é anônimo?

Felipe disse...

É, Renato, toma cuidado, porque a galera lá da sua cidade não é muito simpática a matérias que falam com nostalgia e até em bom tom sobre o futebol da cidade.

Ja já vai ter um monte de cão raivoso te xingando, como se fosse ruim para a cidade esse tipo de projeção (publicar texto no CBET é coisa para poucos).

Cordialmente.

Renato disse...

O anonimato é um típico ato dos covardes.

Anônimo disse...

O anônimo era eu. Não sei como colocar o nome aqui.